terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

O ASSASSINATO DO PORTUGUÊS: SERIA A IMPRENSA IMPARCIAL?


"A Pátria" era um jornal da colônia portuguesa, publicado em São Paulo, e como tal trazia notícias do interesse dessa comunidade. 

Em sua edição de 3 de janeiro de 1904, trazia notícia desmentindo que o chefe da estação de "Corropira" (Corrupira), em nossa cidade, havia sido absolvido de um crime de morte, que teria cometido contra um cidadão português. 

Na verdade, o chefe da estação fora julgado em nossa cidade e absolvido pelo voto de Minerva (desempate), mas o Tribunal de Justiça, órgão de segunda instância, determinara que o mesmo permanecesse preso, até decisão final desse Tribunal. 

Marcando sua posição em defesa dos portugueses, ao que parece sem muito espírito crítico ou investigativo, o jornal terminava a matéria dizendo esperar que os juízes fizessem "cahir todo o rigor da lei sobre a cabeça do miserável bandido". 

Fica a dúvida que aflige o pesquisador: o que teria realmente acontecido? Como terminou o caso?

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

LUIZ MILANI & IRMÃO - COMERCIANTES E INDUSTRIAIS




Nos anos 1930, a família Milani tinha grande importância no cenário social e econômico de Jundiaí; eram industriais e comerciantes; seus escritórios localizavam-se à Rua do Rosário, no centro de nossa cidade. 


Nestes anúncios, publicados pela imprensa nos anos 1930, a empresa falava de seu "afamado sabonete Meia-Lua nº 1, o preferido das pessoas de bom gosto". Ao final deste post, outro anúncio da empresa, também dos anos 1930 que anunciava o breve lançamento de um creme dental e de um pó de arroz.

Para os mais jovens, que talvez nunca tenham ouvido falar em pó de arroz, vale lembrar que este era uma espécie de talco  utilizado principalmente para maquiagem. Não é feito de arroz, nem tem relação alguma a ele; esse nome popularizou-se no século XIX, quando o pó de arroz era muito usado pelas mulheres para deixar a pele mais clara, praticamente branca - da mesma cor do arroz.

É interessante notar que, no mesmo anúncio,  falava-se de produtos de toucador e de secos e molhados, ramos em que também atuava. Os publicitários de hoje certamente não gostariam de anúncios como estes...





terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

UMA BRINCADEIRA DE MAU GOSTO EM 1911

Volta-se a discutir a proibição de fogos de artifício em Jundiaí, desta vez restringindo a proibição às áreas de proteção ambiental, visando prevenir incêndios, principalmente. 

Assim, vale a pena relembrar um fato ocorrido em 20 de setembro de 1911, quando uma bomba foi jogada "da casa de negócio do sr. Antonio Sereno" (um bilhar provavelmente) e explodiu no "largo da Matriz" (hoje Praça Gov. Pedro de Toledo), causando muita confusão, com animais disparando e ferindo uma pessoa. 

Interessante notar que eram cerca de 6 e meia da manhã, e no largo estavam muitos carros (charretes e similares) "aguardando a hora de descerem para a estação", provavelmente atendendo passageiros do primeiro trem da manhã. 

Será que os autores da "brincadeira" haviam passado a noite jogando bilhar e na saída "aprontaram"? 





sábado, 17 de fevereiro de 2018

O FALSO MÉDICO PRESO EM 1932 E O LEITE DE MAGNÉSIA DE PHILLIPS

Em 2 de abril de 1932, a imprensa noticiava a prisão, aqui em Jundiaí, do alemão Roberto Stall, que residia à rua XV de Novembro.

Stall, apresentando-se como massagista, atraiu uma numerosa clientela. Com sua atenção chamada pelo movimento na casa do alemão, a Polícia investigou e encontrou na casa aparelhos médicos e receituários, através dos quais prescrevia remédios para diversos males - isso caracterizava o crime de exercício ilegal da medicina. Será que ele receitava o Leite de Magnésia de Phillips, que era anunciado nessa mesma data?

Quase 90 anos depois, ainda encontramos charlatães dessa espécie atuando em nossa cidade. Já o Leite de Magnésia de Phillips continua à venda, firme e forte, desde 1873, quando foi criado pelo farmacêutico inglês Charles Henry Phillips radicado na cidade americana de Stamford, estado de Connecticut. O produto  começou a ser fabricado  no Brasil em 1930, mas as embalagens ainda eram importadas. Somente a partir de 1949, a Cisper (atual Owens-Illinois) passou a fornecer os tradicionais frascos azuis; a empresa era a única que possuía tecnologia para fabricar vidros dessa cor no país.  Hoje o produto é fornecido em frascos de plástico, também na cor azul.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

VÁRZEA PAULISTA: ACIDENTE COM ARMA DE FOGO MATA CRIANÇA

Nestes tempos em que se discute a permissão para que pessoas possuam e portem armas de fogo, vale lembrar o acidente relatado pelo jornal Folha de S. Paulo de 27 de fevereiro de 1969: um menino de apenas cinco anos encontrou uma arma escondida sob uma cama e acabou morrendo vítima de um disparo acidental. 

O jornal lembra que a mãe do menino dera à luz uma menina, pouco mais de uma hora antes de que acontecesse a tragédia. 

domingo, 11 de fevereiro de 2018

JOAQUIM ANTÔNIO LADEIRA: UM PROFESSOR ILUSTRE

Joaquim Antonio Ladeira nasceu em 02 de maio de 1864, em Campinas. Era filho de Antonio Maurício Ladeira e Maria do Carmo Martins Ladeira, sendo o terceiro filho de quinze irmãos.

Aos dezenove anos foi estudar em São Paulo na Escola Normal, concluindo seus estudos em 1889. Nesse mesmo ano, inicia suas atividades como professor na cidade de Campinas.



Casou-se a 09 de dezembro de 1893 com Maria do Carmo Pedroso Ladeira; dessa união nasceram onze filhos: Alcino, Acílio, Amaury, Abelardo, Auxiliadora Maria, Alayde, Adoniro, Alina, Adiles, Aracy e Armênio.

Seu filho Adoniro foi uma figura ilustre em nossa terra: professor e advogado dá seu nome a uma escola em nossa cidade. 

Em 1892 veio para nossa cidade, tendo se aposentado em 1931 como Diretor do Grupo Escolar “Cel Siqueira de Moraes”. Suas atividades não se limitaram ao ensino, como mostra a publicação ao lado, de 1928, que noticia sua nomeação para o "Conselho de Assistencia e Protecção aos menores".

Faleceu repentinamente em 20/03/1933, em Jundiaí, onde se encontra sepultado.  Seu enterro saiu da Praça João Pessoa, antigo nome do atual Largo de São Bento - provavelmente vivia ali.

Dá seu nome a uma escola da vizinha cidade de Louveira, de cujo acervo  vieram as informações para criação deste post.


sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

ACABOU O ESTOQUE DE LANÇA-PERFUME

O lança-perfume é fabricado à base de cloreto de etila, um produto químico muito utilizado nos ambientes industriais, inclusive sendo usado como aditivo à gasolina. Seu uso acelera a frequência cardíaca, que pode chegar chegar até a 180 batimentos por minuto - dentre outros efeitos, estão desmaios, alucinações, torpor e vômitos, que se seguem a uma sensação de euforia. 

O lança-perfume chegou ao Brasil no Carnaval em 1904, no Rio de Janeiro, sendo rapidamente incorporado aos festejos carnavalescos de todo o país, principalmente nas batalhas de confete, corsos e, mais tarde, nos bailes. 

A Rhodia (empresa francesa) fabricava o produto em sua fábrica na Argentina e exportava-o para o Brasil onde era vendido com a marca Rodo, começado a em 1922 a fabrica-lo em sua fábrica de São Bernardo do Campo - logo outras empresas passaram a fabricar o produto, entre as quais a Elekeiroz, que o comercializava com a marca Pierrot - a empresa anteriormente importava-o da Europa - a embalagem era de vidro. 

A Elekeiroz, que até os dias atuais tem uma fábrica em Várzea Paulista, antigamente pertencente a Jundiaí, publicava na edição de "O Estado de S. Paulo" de 15 de fevereiro de 1931 um anúncio informando que já havia vendido toda sua produção, não sendo possível atender a outros pedidos.

Em algum momento, as pessoas começaram a inala-lo, o que gerava a partir dos efeitos acima, acidentes e mortes. Em 1961, por recomendação do jornalista Flávio Cavalcanti, o então Presidente Jânio Quadros proibiu seu uso; sua posse sujeita as pessoas até a 15 anos de prisão.

As imagens abaixo mostram  anúncios antigos do Rodo e do Pierrot





TÊXTIL COSMOPOLITA: DESRESPEITANDO A TUDO E A TODOS

Em meados dos anos 1960, a Têxtil Cosmopolita tinha uma fábrica em Jundiaí, no bairro de Vila Hortolândia. 

Como era usual naquela época, no ramo têxtil, a maior parte de seus operários era do sexo feminino, e o transporte oferecido pela empresa submetia as mulheres a constrangimentos, como pode ser visto no requerimento do vereador Joaquim Candelário de Freitas. A Cosmopolita, ao que parece, primava pelo desrespeito a tudo e a todos - ainda hoje existem ações judiciais cobrando tributos que a mesma deixou de recolher.

A empresa respondeu informando ter tomado algumas providências, melhorando o caminhão, como pode ser visto em sua resposta ao pé deste post, quando poderia ter resolvido o problema de forma definitiva, adotando ônibus, por exemplo. 

Mas, como dissemos, respeito não era o forte da empresa...







terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

1914 - MANOBRAS DA FORÇA PÚBLICA EM JUNDIAÍ?



O Estado de S. Paulo de 23 de julho de 1914 relatava preparativos para manobras de nossa Força Pública (atual Polícia Militar) - na época, a Força tinha um caráter muito mais militar do que na atualidade - chegou até mesmo a ter aviões de caça e canhões.

A ideia era que os soldados se deslocassem da capital até nossa cidade a pé e aqui se exercitassem - o jornal chamava o deslocamento de "excursão".

O jornal dizia que para preparar a manobra, viria à nossa cidade Eloy Chaves, Secretário de Justiça e Segurança, a quem era subordinada a Força - Eloy tinha fortes ligações com nossa cidade, que são relatadas em outro post. Ele seria acompanhado pelos Coronéis Baptista da Luz, comandante geral da Força Pública e Nerél, do Exército Francês, que fazia parte da Missão que trabalhava para a modernização de nossa Força. 

O jornal falava da formação de uma comissão em nossa cidade para recepcionar as autoridades que viriam a assistir às manobras e dizia também que um grande público era esperado para o evento. 

Não sabemos como o assunto se desenvolveu, mas há notícias que evento desse tipo ocorreu no mesmo ano nos arrebaldes da Capital, o que talvez permita concluir que as manobras não aconteceram em Jundiaí - inclusive consta que as fotos que ilustram este post seriam do referido evento. 



Já as fotos que se seguem, mostram o rancho dos soldados e o almoço das autoridades  - a diferença é "pequena"...



sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

O CARDEAL ARCOVERDE ERA IRMÃO DO DOUTOR CAVALCANTI


Dom Joaquim Arcoverde de Albuquerque Cavalcanti,  o Cardeal Arcoverde (1850-1930), foi o primeiro Cardeal latino-americano, nomeado por Pio X em 1905.

Era irmão do médico Francisco de Albuquerque Cavalcanti, o Dr. Cavalcanti (1856-1937), que foi prefeito de nossa cidade.

Os irmãos descendiam da família Cavalcanti, de Florença (Itália) e de Jerônimo de Albuquerque, um dos primeiros povoadores de Pernambuco, que se unira à filha do cacique Arcoverde, da tribo dos Tabajaras.


No dia 14 de outubro de 1910 a imprensa noticiava que o Cardeal veio à nossa cidade, em visita a seu irmão, que era pai do engenheiro Leonardo Cavalcanti, cuja morte trágica relatamos em outro post. Há registro de outra visita, desta vez em 20 de maio de 1918 - o Cardeal veio a São Paulo e aproveitou para vir à nossa cidade; voltou ao Rio de Janeiro pelo trem "nocturno".

Segundo relata o jornalista Celso Francisco de Paula, citando o livro "As fotos, os traços e a história", do historiador Geraldo Barbosa Tomanik, antes das duas visitas como cardeal, Arcoverde esteve em Jundiaí em 1887, quando ainda era pároco em Cimbres, sua terra natal, no município de Pesqueira, Pernambuco. Nessa ocasião, visitou a Igreja Matriz de Nossa Senhora do Desterro, que tinha como vigário o Cônego Agnelo de Moraes, e deixou registradas as suas excelentes impressões sobre ela. Seu irmão, estava radicado em Jundiaí desde 1885.

O Cardeal tinha a saúde muito frágil, tendo ficado muitos anos afastado de suas funções por esse motivo. Quando morreu, na Sexta-feira Santa de 1930, era ainda o único cardeal da igreja latino-americana, e enchia a imprensa brasileira de esperanças no sentido de que dentro dos próximos cinquenta anos o país, maior nação católica fora da Europa, fizesse um Papa, o que até hoje não aconteceu - essa esperança era manifestada pela revista O Cruzeiro em sua edição de 26 de abril de 1930. 


Recebeu as honras fúnebres que o cerimonial de governo reservava aos vice-presidentes da república, acompanhando o próprio presidente Washington Luís as homenagens póstumas. Seu caixão, transportado em carro fúnebre puxado por sacerdotes, percorreu as ruas do Rio de Janeiro tendo à frente do cortejo o arcebispo D. Sebastião Leme,  que em após alguns meses viria a ser nomeado Cardeal pelo Papa Pio XI - foi o segundo cardeal brasileiro.

Com a presença do corpo diplomático, autoridades, e inúmeros bispos do país, o Cardeal Arcoverde foi sepultado na Catedral Metropolitana do Rio de Janeiro, hoje chamada Igreja de Nossa Senhora do Carmo, em função da construção da nova catedral nos anos 1970.