quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

UMA OCASIÃO FESTIVA: O COMPROMISSO À BANDEIRA EM 1938

A Folha da Manhã, em sua edição de 11 de junho de 1938, noticiava que no dia seguinte aconteceria o "juramento à bandeira" dos soldados que estavam sendo incorporados ao então 2º Grupo de Artilharia de Dorso, hoje 12º GAC.

Este é um evento emocionante, em que os novos soldados, juntos, dizem em voz alta:    
“Incorporando-me  ao Exército Brasileiro, prometo cumprir rigorosamente as ordens das autoridades a que estiver subordinado, respeitar os superiores hierárquicos, tratar com afeição os irmãos de armas, e com bondade os subordinados, e dedicar-me inteiramente ao serviço da Pátria, cuja honra, integridade, e instituições, defenderei com o sacrifício da própria vida”. A foto ao lado mostra o momento em que soldados fazem o juramento. 

Na ocasião haveria também um desfile e uma competição - um "cabo de guerra" para o qual eram esperados quatrocentos participantes. 

Na solenidade, falaria o então capitão João Paulo da Rocha Fragoso, que chegou a Marechal, tendo ocupado a Secretaria da Segurança de nosso estado e uma diretoria da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. 

Fragoso (1906-1978) foi casado com a sra. Irene Zaniratto, natural de nossa cidade 

 

sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

1941 - OS FOGÕES A GÁS COMEÇAVAM A SE POPULARIZAR EM JUNDIAÍ

Em 21 de fevereiro de 1941, O Estado de S. Paulo anunciava a inauguração da "agência distribuidora do Ultragaz" em nossa cidade. 

A empresa localizava-se à Av. Dr. Cavalcanti 1073, e estiveram presentes o Prefeito, representantes da imprensa e "pessoas gradas".  A Ultragaz foi criada em 1937, no Rio de Janeiro, e começou a operar com uma frota de três caminhões e 166 clientes; hoje, tem 5.000 pontos de venda. 

Por aqui, era o começo do fim dos fogões que queimavam lenha e carvão - no entanto, esses equipamentos já existiam há mais tempo em outros países, como mostra o anúncio francês abaixo, da década de 1920 - o texto quer dizer algo como "com o fogão a gás, seus pratos sempre ficarão bons".

  

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

1949: FARMÁCIAS DE PLANTÃO

A imprensa informava quais farmácias estariam de plantão  no domingo, 27 de março de 1949. 

Naquela época, não existiam tantas farmácias como hoje, e a Prefeitura fazia uma escala, obrigando a que algumas delas abrissem aos domingos e facultando às outras abrirem. 

É  interessante notar que das farmácias citadas, quase  todas não existem mais - há ainda em nossa cidade uma Drogaria Catedral, mas não sabemos se é o mesmo estabelecimento que existia em 1949. 

domingo, 9 de dezembro de 2018

A JUSTIÇA ERA (E AINDA É) LENTA.....

Em junho de 1873, Joaquim Antonio Fernandes relatava em anúncio publicado na Gazeta de Campinas que, em fevereiro daquele ano, requerera o Juiz Municipal de nossa cidade a emissão de uma certidão relativa a um processo que movera.

No anúncio dizia que ainda não conseguira a certidão, pois o escrivão responsável "alegava serviços" e não emitia o documento. 

Pelo jeito, esse estado de coisas é bem antigo...




quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

NAZISTAS EM JUNDIAÍ


A imprensa da capital (Folha da Manhã) noticiou em novembro de 1935 a realização de um baile no Grêmio CP, promovido por um certo clube Germânia.


Antes do início do baile houve uma "sessão comemorativa", onde foi cantado nosso Hino Nacional e o hino do partido nazista, além de canções alemãs. Em seguida, ouviu-se um programa de rádio sendo transmitido diretamente de Berlim.

Estava presente o prefeito da cidade (Antenor Soares Gandra), que foi saudado por Carlos Cordts, falando em nome do Germânia. 

Esse parece não ter sido um evento isolado. Quando o Brasil estava prestes a entrar em guerra com a Alemanha, a polícia intensificou as investigações contra os nazistas. Nesse processo, foram apreendidos documentos, como o folheto que aparece ao lado, que era um convite para uma reunião em 1934, que iria realizar-se no mesmo Grêmio CP.

Seria interessante sabermos o que aconteceu com o clube, seus associados e com os nazistas jundiaienses quando o Brasil entrou na guerra contra os alemães e contribuiu para a sua derrota, inclusive com a 148ª Divisão alemã rendendo-se aos brasileiros na Itália, como mostra a foto abaixo.










OS TRENS DA PAULISTA E O FILÉ ARCESP

Trabalhando em São Paulo desde 1971, ainda me recordo quando os trens ainda eram um excelente meio de transporte entre a capital e nossa cidade - já mencionamos isso em post anterior falando das "litorinas". 
O carro restaurante preparando-se para deixar a Estação da Luz 

Mas hoje o tema é outro: os trens de longo curso da Paulista, que ligavam São Paulo às barrancas do rio Paraná; mais especificamente os carros restaurante que faziam parte desses trens - não vivemos essa época, mas houve tempo em que para ir a esses carros, era necessário o uso de paletó e gravata e retirar uma senha. 


Eles eram ideais para se tomar uma cervejinha (sempre gelada) e jantar, não dando trabalho em casa - naquela época, jantava-se cedo em Jundiaí. Esse jantar ia desde simples porções de fritas e queijos, até o que havia de mais sofisticado a bordo: o Filé ARCESP.


A senha
O consagrado jornalista e escritor Ignácio de Loyola Brandão, natural de Araraquara, que muito viajou nos trens da Companhia Paulista, lembra o filé: "Era um bife muito grande, com tomate, cebola, e vinha acompanhado de arroz", descreve Loyola. "Até hoje lembro do aroma." 

O nome do prato homenageava passageiros muito frequentes: os viajantes, como eram chamados na época os representantes comerciais; o nome do prato, vem do nome da entidade que os reunia, a Associação dos Representantes Comerciais do Estado de São Paulo - ARCESP. 

A receita original se perdeu, mas das lembranças de viajantes é possível tentar reproduzi-la, aqui em versão para duas pessoas: 

Ingredientes: 
  • 2 bifes de 220 g de filé mignon 
  • 2 tomates para salada 
  • 1 cenoura 
  • 1 cebola 
  • 200 g de manteiga sem sal 
  • 50 g de ervilhas 
  • Sal e pimenta do reino moída na hora a gosto 

Preparo: 
  • Corte os tomates em cubos e retire todas as sementes. 
  • Fatie a cenoura na diagonal. 
  • Corte a cebola em rodelas. 
  • Tempere os filés com sal e pimenta do reino. 
  • Em uma frigideira, derreta metade da manteiga até borbulhar. Incline levemente a frigideira e coloque os filés na parte mais elevada. 
  • Deixe que o suco dos filés se incorpore à manteiga e mantenha-os no fogo até obter o ponto desejado. 
  • Em uma panela, cozinhe a cenoura até ficar ao dente. 
  • Separadamente, cozinhe as ervilhas. 
  • Quando os filés estiverem no ponto, retire-os da frigideira e reserve-os em lugar aquecido.
  • Coloque na frigideira a manteiga que sobrou, misturando-a ao suco dos filés. 
  • Junte a cebola e mexa bem. 
  • Disponha a cenoura, as ervilhas, os tomates e mantenha os vegetais ainda no fogo, até obterem uma boa coloração. Ajuste o sal, se necessário. 
  • Sirva os filés com os vegetais na manteiga,
    acompanhados por arroz branco. 

Preparado assim, assemelha-se ao original. Só não fica igual por falta de um ingrediente hoje impossível de encontrar: os trens da Companhia Paulista...


segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

O VEREADOR QUEIXAVA-SE DO SOM DOS ALTO-FALANTES


Em fevereiro de 1949 o Vereador Alberto da Costa pedia providências no sentido de que a empresa Alto Falante Rex diminuísse o volume dos equipamentos instalados na Praça Governado Pedro de Toledo e no Jardim Público (Praça Marechal Deodoro da Fonseca) - o som estaria abalando os nervos dos que passavam rela região.

O vereador recomendava que mais equipamentos fossem instalados, porém com o som em volume mais baixo, afim de não criar problemas para as pessoas que por ali andassem "refrescando suas ideias", passeando ou conversando com algum amigo. 

Em nossa cidade existiram diversas empresas desse tipo - eram uma espécie de emissoras de  rádio que divulgavam músicas, notícias e anúncios através de alto-falantes instalados em postes ou janelas de prédios. 

Alberto da Costa, nascido no Rio de Janeiro, ao perder a mãe ainda criança, veio viver em nossa cidade com seus tios. Vereador por 16 anos, apresentou alguns projetos exóticos, como aquele que propunha a construção de um túnel ligando a Vila Rami ao bairro de Santa Clara, visando evitar acidentes no cruzamento da Via Anhanguera. Pretendia também proibir a malhação dos Judas, e "namoros avançados"  Envolveu-se também em conflito com o então vereador Omair Zomignani.

Formado em Contabilidade pelo então Ginásio Rosa, Costa foi funcionário da Cia. Paulista durante praticamente toda sua vida e pertencia aos Vicentinos, tendo, nessa qualidade trabalhado muito pela implantação da Cidade Vicentina, à época chamada “Vila dos Pobres” - não era apenas uma pessoa com ideias exóticas...  

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

DOCES LEMBRANÇAS: O RESTAURANTE DAS CARPAS

A Chácara das Carpas foi durante muito tempo o restaurante mais elegante de Jundiaí. De propriedade do italiano Giandomenico Buccianti, abrigava reuniões dos clubes de serviço, recebia visitas ilustres, casamentos etc. 

Havia em seu terreno uma fonte de água mineral, que era engarrafada - a imagem acima mostra o rótulo das garrafas. Uma notícia da Folha da Manhã, de fevereiro de 1945, falava da água e relatava planos de Buccianti para construir um hotel no local, o que acabou não acontecendo. 

O restaurante fechou logo após a morte de Buccianti; outros restaurantes usam ou usaram o nome Carpas, mas nunca chegaram perto do original, quer em qualidade, quer em charme. Era tão famoso que deu nome ao bairro onde se situava, o Jardim das Carpas. 
O prédio foi demolido, e dele só restam lembranças, como as das fotos abaixo, do acervo do Prof. Maurício Ferreira: inicialmente, o restaurante ainda em funcionamento e depois já fechado, além de uma vista do lago, obtida a partir da residência de Giandomenico, que ficava no alto da propriedade, atrás do restaurante propriamente dito.



sexta-feira, 23 de novembro de 2018

O PROFESSOR NELSON FOOT, UM JUNDIAIENSE ILUSTRE

Nelson Foot nasceu em nossa cidade no dia 29 de maio de 1908,   filho de pais ingleses, Alfred Foot e Amy Tinson Foot;  foi professor, filólogo, historiador, articulista e poeta.

Na infância cursou o Ginásio José Bonifácio, localizado na esquina das ruas Prudente de Moraes e Cel. Siqueira de Moraes, e pertencente ao professor Giácomo Ítria. Posteriormente estudou no Colégio D. Pedro II, localizado na rua do Rosário no local onde depois foi construído o  Grande Hotel; essa escola era de propriedade do professor João Luiz de Campos.

Autodidata, dotado de grande cultura, Nelson Foot trabalhou em muitas escolas: na Escola Normal de Santa Rita do Passa Quatro foi diretor além de lecionar latim, português e inglês. Em Jundiaí foi professor de português e de inglês na Escola de Comércio Prof. Luiz Rosa, e de latim, inglês e francês em colégio da rede estadual. 

Mas na área educacional sua maior obra foi o SENAI, que dirigiu desde sua implantação em 1944 até 1969, quando foi sucedido por outro ilustre professor: Waldemir Savoy. Trabalhou também na Companhia Paulista de Estradas de Ferro.

Participou intensamente da vida cultural de nossa cidade, escrevendo, organizando eventos etc. A foto ao lado mostra-o em jantar em homenagem ao Dr. José Romeiro Pereira, de quem já falamos em outro post - o Prof. Foot é o primeiro à direita. Lutou pela instalação em nossa cidade de instituições como a Faculdade de Medicina de Jundiaí,  Escola Técnica Estadual Arquiteto Vasco Antonio Venchiarutti e Museu Histórico e Cultural.

Faleceu em em 20 de janeiro de 1984; seu nome foi dado à Biblioteca Municipal que hoje funciona  no Complexo Argos. 


segunda-feira, 19 de novembro de 2018

UM POUCO SOBRE A ARGOS


A Argos foi uma das maiores e mais famosas indústrias têxteis de Jundiaí e do Brasil.


Este anúncio, publicado em 1956 no jornal "O Estado de S. Paulo" falava dos brins, cáquis e gabardines fabricados pela empresa - durante muitos anos, foi um grande fornecedor de tecidos para a confecção de uniformes do Exército.

Fundada em 1913,    empresa é um dos grandes marcos no desenvolvimento industrial do estado de São Paulo na primeira metade do Século XX.   Foi a maior empregadora de Jundiaí até a década de 1930, e promoveu intenso movimento de urbanização no bairro da Vila Arens, atraindo moradores, comércio e outras indústrias

No início da década de 1980, a empresa, que vinha decaindo em função de mudanças no mercado e na tecnologia,  além de ter problemas administrativos, acabou fechando suas portas.  

segunda-feira, 12 de novembro de 2018

A CAPOEIRA SERVIA DE "PALCO PARA ATOS INCONFESSÁVEIS"!


Em sessão da Câmara Municipal acontecida em outubro de 1956, o vereador Carlos Gomes Ribeiro indicava a necessidade de que fosse roçada uma capoeira de caraguatá situada na Rua Senador Bento Pereira Bueno, na Vila Progresso.   

A providência era necessária porque, além de enfeiar a rua, a capoeira servia de "palco para atos inconfessáveis de vagabundos", causando aos moradores "situações vexatórias". 

caraguatá  é uma planta da família das bromélias, de folhas compridas com espinhos nas bordas; resta saber se esses espinhos não atrapalhavam a prática dos  atos inconfessáveis apontados pelo vereador. 

Carlos Gomes Ribeiro era ferroviário (Santos a Jundiaí) e foi vereador de 1956 a 1972, tendo pertencido sucessivamente ao PSB, MDB e Arena. Foi também um líder sindical. 

sexta-feira, 9 de novembro de 2018

DE BARCO, DA PONTE A MONTE SERRAT

Em requerimento de 1952, o então vereador Oswaldo Bárbaro (abaixo, em foto da época) propunha que a Câmara registrasse em ata de sessão um voto de congratulações a um grupo de jovens que em 15 de agosto daquele ano descera o Rio Jundiai em três barcos, objetivando levar as saudações do povo do bairro da Ponte aos moradores do bairro de Monte Serrat, hoje Itupeva. 

Na linguagem peculiar da época, o fato era chamado de "extraordinário feito", que era "acaroçoado" (incentivado) pela Câmara... 

Ficamos curiosos para saber como voltaram e como trouxeram os barcos; certamente não remaram rio acima...


domingo, 4 de novembro de 2018

1950: JUNDIAÍ SEM ANALFABETOS?

A Folha da Manhã de 11 de fevereiro de 1950 trazia matéria informando que Jundiaí era o primeiro município do Brasil sem analfabetos. 

O Prof. Guelli discursando em 1942
Havia uma ressalva: o delegado de ensino de nossa região, Prof. Oscar Augusto Guelli dizia que talvez houvesse "um pequeno número de iletrados adultos disseminados pelos recantos do município, inacessíveis à ação dos cursos de ensino supletivo".

Era uma boa notícia, mas hoje, quase 70 anos depois, ainda temos em nossa região uma legião de analfabetos funcionais, pessoas que conseguem balbuciar as silabas de um texto, sem atinar com seu conteúdo como um todo. Há mais gente ainda que desconhece os conceitos básicos de aritmética.

Essas pessoas estão sendo rapidamente postas à margem do desenvolvimento, incapazes de se adaptarem as exigências do mundo moderno, simbolizadas pela 4ª Revolução Industrial - neste link, trazemos alguns conceitos sobre o assunto e uma entrevista em que expressamos nossas preocupações sobre o tema. 

Tudo isso deve ser motivo de muita preocupação por parte daqueles que pensam nosso futuro. 

terça-feira, 30 de outubro de 2018

JUNDIAÍ JÁ TEVE UMA SOCIEDADE HÍPICA


A Folha da Manhã noticiava em 14 de abril de 1946 que fora eleita a nova diretoria da Sociedade Hípica de Jundiaí, formada por pessoas de relevo na sociedade local. 

A nota dizia que a entidade iria realizar uma prova de "caça à raposa", reunindo seus associados. Na Inglaterra do século XIX, a caça à raposa era um esporte de elite: acompanhados por cães, nobres perseguiam raposas com seus cavalos. Nessa missão de captura, o conjunto saltava distintos tipos de obstáculos naturais: troncos, riachos, cercas vivas etc.
 
Mais tarde,  foram criados  circuitos com obstáculos que reproduziam as caçadas, o que existe até hoje, sem as raposas, evidentemente. 

Não conseguimos encontrar qualquer outra notícia a respeito da entidade, embora exista hoje em nossa cidade uma instituição chamada "Hípica Jundiaí", voltada para a prática de esportes equestres, aulas e manutenção e comércio de cavalos - certamente não tem ligação com a entidade objeto da notícia de 1946  .  


domingo, 28 de outubro de 2018

CRUELDADE: CARROCEIRO MATA ANIMAL

A Folha da Manhã de 25 de fevereiro de 1930 trazia uma notícia acerca de crueldade com animais. 

Em Botujurú, bairro de Campo Limpo Paulista e à época pertencente a Jundiaí, Benedicto de Oliveira conduzia uma carroça. Irritado com o desempenho dos animais em uma subida, passou a agredir-los, chegando a matar um deles com uma pancada na cabeça - o desvairado carroceiro ainda mordeu a orelha do animal e acabou sendo preso. 

O animal era de propriedade de seu patrão Biagio Marchetti, um cidadão proeminente na região; valia  cerca de um conto e quinhentos mil réis, algo como 30 mil reais de hoje, em um calculo muito grosseiro, levando-se em conta os preços dos jornais na época (200 réis) e na atualidade (4 reais).

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A ELETRIFICAÇÃO DA COMPANHIA PAULISTA - UM MARCO EM NOSSA HISTÓRIA

Dois símbolos marcaram de forma indelével o nível de excelência da Paulista: seus  trens de luxo azuis e suas locomotivas elétricas, em especial a imponente V8, com suas linhas aerodinâmicas. 

Era um conjunto marcado pela rapidez, conforto e pontualidade. Nunca mais será possível viajar ao interior contando com a comodidade de carros-restaurante, dormitórios, poltronas giratórias individuais...

A Companhia Paulista foi a primeira grande ferrovia brasileira  que eletrificou suas linhas, ainda na década de 1920, num brilhante trabalho do  engenheiro Francisco de Monlevade,  que implantou um sistema que prestou bons serviços por mais de 75 anos - um recorde que demorará a ser quebrado, se é que um dia virá a ser. É oportuno lembrar que durante esse trabalho, teve morte trágica o engenheiro Leonardo Cavalcanti

Os estudos para a eletrificação da C.P. se iniciaram em 1916, quando o Brasil era um país periférico, agrário e sem praticamente nenhuma tradição técnica. A implantação de um sistema sofisticado como esse não incluía apenas a compra e instalação de equipamentos caros e sofisticados para a época, como também implicou no treinamento de maquinistas e empregados pela própria companhia. 

Não haviam escolas, faculdades e universidades que pudessem lidar com o tema no Brasil. E mesmo os técnicos da General Electric e da Westinghouse que aqui vieram acompanhar a implantação do novo sistema de tração, puderam aprender bastante com a experiência da Paulista com esta nova tecnologia.

Após a implantação extraordinariamente bem-sucedida do programa de eletrificação entre Jundiaí e Campinas, a partir de 1922, ele foi paulatinamente estendido ao longo das linhas de bitola larga da Paulista, alcançando Rincão, na linha de Barretos, em 1928. Trinta anos após sua implantação, em 1954, ele atingiu a sua extensão máxima, alcançando Cabrália Paulista, na linha de Bauru.

A foto ao lado mostra a primeira locomotiva elétrica da Paulista; fabricada pela Baldwin Locomotive Works (componentes mecânicos) e Westinghouse Electric Corporation (componentes elétricos), tinha  1627 hp e foi desativada provavelmente na década de 1970.

Infelizmente a grave crise econômica que se abateu sobre as ferrovias após a década de 1950 impediu o prolongamento da eletrificação além desses pontos. Ainda assim, o sucesso da eletrificação foi suficiente para mantê-la funcionando por várias décadas a fio. 

Em 1995, contudo, a administração da Ferrovia Paulista - FEPASA, empresa estatal que havia absorvido a Companhia Paulista em 1971, decidiu que a manutenção da eletrificação era técnica e economicamente inviável, dada a obsolescência do sistema.

Essa decisão administrativa acabou sendo revogada e a eletrificação voltou a funcionar em 1996, ainda que em caráter bastante precário. O golpe de misericórdia veio em 1999, com a privatização da FEPASA: a empresa que assumiu as linhas não se interessou em manter a tração elétrica. O sucateamento da rede elétrica se deu entre o fim de 1999 e início de 2000. 

Um final realmente inglório para uma conquista tecnológica espetacular conquistada num país ainda agrário e inculto.


quinta-feira, 18 de outubro de 2018

EM 1934, A PROMESSA ERA DE QUE TRENS LIGARIAM JUNDIAÍ A SÃO PAULO EM 30 MINUTOS!

São constantes as promessas quanto ao reestabelecimento de um serviço decente de transporte de passageiros entre São Paulo e nossa cidade. 

Já se falou em trem bala, e agora fala-se no Trem Intercidades, que chegaria até Americana. 

Essas promessas levam-nos adotar uma postura cética, na linha do "só acredito quando começar a funcionar", ainda mais que há pelo menos 84 anos já se falava no assunto - pelo menos é o que dizia o jornal "O Globo", de 25 de janeiro de 1934 (!). 

A matéria dizia que a "Ingleza", depois Santos a Jundiaí e agora CPTM havia encomendado novos trens que seriam empregados  na linha da empresa, sendo que o trajeto entre Jundiaí e São Paulo, que era feito em uma hora, passaria a ser feito em 30 minutos. 

Como escrevemos em outro post, quando a ferrovia começou a operar entre Jundiaí em São Paulo, em 1867, o tempo gasto era de duas horas; hoje, além de não haver ligação direta, esse tempo está entre duas horas e duas horas e meia...


sábado, 13 de outubro de 2018

O INTERNATO BOA ESPERANÇA - UMA DAS PRIMEIRAS ESCOLAS DE JUNDIAÍ

Em 1871 havia em Jundiaí uma escola chamada Boa Esperança. Era um internato, onde se ensinava a "ler, escrever, contar, doutrina christã e grammatica portugueza".

A escola era dirigida por Francisco de Paula Sousa Campos, que pertencia a uma família tradicional da região de Campinas. 

A escola situava-se em uma fazenda, no bairro Capivary (ao que parece na região da estrada de Itatiba, próximo ao local onde há uma saída para Louveira) e o preço era de duzentos mil réis por ano; grosseiramente, esse valor equivale hoje a R$ 30 mil.  

segunda-feira, 8 de outubro de 2018

JUNDIAÍ E A REVOLUÇÃO DE 1924

A Revolução de 1924 foi o maior conflito ocorrido na cidade de São Paulo. Teve início na madrugada de 5 de julho e terminou em 28 de julho de 1924. A revolta foi motivada pelo descontentamento dos militares com a crise econômica, o atraso social e a concentração de poder nas mãos de alguns políticos.

Comandada pelo general reformado Isidoro Dias Lopes, contou com a participação de militares do Exército e da então Força Pública, hoje Polícia Militar. Os mais conhecidos foram Joaquim Távora (que morreu na luta), Juarez Távora, Miguel Costa, Eduardo Gomes e João Cabanas. O objetivo principal do levante era depor o presidente Artur Bernardes e implantar o voto secreto, a justiça gratuita e o ensino público obrigatório. 


Os revoltosos ocuparam a cidade por 23 dias, forçando o presidente (como era chamado o governador) do estado, Carlos de Campos, a fugir para o bairro da Penha, depois do bombardeio do Palácio dos Campos Elísios, sede do governo na época.  No interior do estado de São Paulo aconteceram rebeliões em várias cidades, com tomada de prefeituras.

A cidade de São Paulo foi bombardeada por aviões e pela artilharia do exército legalista (leal ao presidente Artur Bernardes), tendo sido atingidos vários pontos da cidade, em especial os bairros da Mooca, Brás e Perdizes, como mostram as fotos. 

Em nossa cidade, registraram-se vários episódios ligados à Revolução, especialmente por estar sediado aqui o então 2º GAM – 2º Grupo de Artilharia da Montanha, atual 12º GAC. 

Joaquim Távora, que participara em 1922 do levante do Forte de Copacabana, contra o mesmo Artur Bernardes, desertou do Exército e passou a preparar a revolução, tendo inclusive estado em nossa cidade, contatando militares do 2º GAM, que já no dia 5 de julho aderiu à revolta.

O elo com os revoltosos de S. Paulo era o  tenente intendente do 2º GAM, Joaquim Nunes de Carvalho; inquérito posterior à revolta afirmava que o mesmo "vivia em constantes viagens, a pretexto de desempenhar as funcções do seu cargo de intendente, mas, ao depois, se soube que elle fazia ligação entre a sua unidade e os demais nucleos preparadores da rebellião".

Assim que o GAM se revoltou, comandado pelo tenente coronel Olyntho Mesquita de Vasconcellos, foi dividido em duas partes, uma que ficou na cidade, protegendo-a dos legalistas, e outra que seguiu para São Paulo. O então 1º Tenente Newton Brayner Nunes da Silva, que comandava a parte que ficou em Jundiaí, convocou reservistas e simpatizantes a se apresentarem. Em seguida, organizou um contingente de 30 homens que seguiu para Campinas, cidade também revoltada, para protegê-la de forças legalistas mineiras.  

Militares de Jundiaí e Joaquim Távora levantaram o então 4º Regimento de Artilharia Montada,  de Itu, hoje  2º Grupo de Artilharia de Campanha Leve (2º GAC L), que aderiu à revolução no dia 8 de julho. 

Cedo os revoltosos perceberam que não conseguiriam manter S. Paulo por muito tempo, tendo decidido retirar-se para Jundiaí, o que acabou não acontecendo. Famílias mais abastadas, no entanto, saíram da capital e vieram refugiar-se aqui. Mesmo jundiaienses acabaram deixando a cidade: a família de meus avós, que residia no bairro das Pitangueiras retirou-se para o então remoto bairro do Castanho. 

Militarmente mais fracos que os legalistas, os rebeldes retiraram-se para Bauru na madrugada de 28 de julho. Com o fim do conflito na cidade, contaram-se as vítimas: entre 500 e 700 mortos e cerca de 5 mil feridos. A situação era dramática; a edição de 1º de agosto de 1924 do Jornal do Comércio trazia uma nota: "A Diretoria de Higiene Municipal pede, por nosso intermédio, às pessoas que souberem onde se encontram cadáveres não sepultados ou sepultados fora dos cemitérios, avisar, à mesma Diretoria, na Prefeitura Municipal".

Em Bauru,  Isidoro Dias Lopes ao ser informado de que o exército legalista se concentrava na cidade de Três Lagoas, no atual Mato Grosso do Sul, atacou aquela cidade, onde foi derrotado: um em cada três dos soldados revoltosas morreu, foi ferido gravemente ou capturado. 

Os sobreviventes juntaram-se a revoltosos vindos do sul, formando a Coluna Prestes, que até 1927 vagou pelo Brasil combatendo o governo. Muitos preferiram o exílio, como o comandante do 2º GAM, tenente coronel Olyntho Mesquita de Vasconcellos, que depois juntou-se à Coluna Prestes, com o posto de general.

Em 1930, quando Getúlio Vargas tomou o poder, os envolvidos na Revolução de 1924 foram anistiados, tendo muitos deles voltado ao Exército e à Força Pública. O Tenente Brayner chegou ao generalato, tendo como coronel comandado o 2º GO 155, hoje 12º GAC; em foto da época, ele aparece ao lado do arquiteto Vasco Antonio Venchiarutti, que foi prefeito de nossa cidade.



quarta-feira, 3 de outubro de 2018

A CONSTRUÇÃO DA FONTE LUMINOSA

O "Estado de S. Paulo", em sua edição de 9 de abril de 1941, falava da construção da fonte luminosa na praça Pedro de Toledo, que seria inaugurada no dia 18 de maio seguinte.

A nota trazia detalhes técnicos da fonte, dizendo que 14 ejetores lançariam a água a 10 metros de altura, iluminada por 16 projetores; seu diâmetro era de 10 metros.  

A construção da fonte e a reforma da praça custaram cerca de 40 contos de réis à Prefeitura. Para se ter uma ideia acerca do montante desse investimento, o primeiro prêmio da loteria federal na época era de 300 contos; com os 40 contos era possível comprar cerca de 20 toneladas do melhor café em sacas, pela cotação daquele dia.

A fonte foi demolida nos anos 1960. Mais tarde foi instalado no local um monumento horrendo, as Caravelas, um monstrengo de ferro sem nenhum significado para nossa cidade. 


A engenheira Luci Merhy Martins Braga é co-autora de um artigo que menciona um chafariz que existiu  na Praça Marechal Floriano Peixoto, onde existe o coreto - fica na parte de trás da Catedral. Esse chafariz foi construído nos anos 1920 e retirado no início dos anos 1940; era de cimento, construído pela empresa paulistana Paciulle & Ratto. A foto ilustra o artigo.