segunda-feira, 30 de outubro de 2017

MÉDICOS: ÀS VEZES ABNEGADOS, ÀS VEZES NEM TANTO...

A febre tifóide é uma doença infectocontagiosa causada pela ingestão da bactéria  Salmonella typhi, presente em alimentos ou água contaminados.  Está associada a baixos níveis socioeconômicos, relacionando-se, principalmente, com precárias condições de saneamento e de higiene pessoal e ambiental.

Antes dos antibióticos, causava muitas mortes - dentre suas vítimas,  o  compositor Franz Schubert,  Wilbur Wright  (um dos irmãos Wright, pioneiros da aviação),  Péricles (filósofo e político da Grécia antiga), D. Pedro V (rei de Portugal), a princesa  Leopoldina de Bragança e Bourbon (filha de D. Pedro II, morta aos 23 anos) e o renomado físico italiano Evangelista Torricelli.

Surtos da doença eram frequentes em nossa cidade, e um deles aconteceu em fins de 1929; detetado o surto, o Dr. Antenor Soares Gandra, delegado de higiene de nossa cidade convocou os médicos da cidade para uma reunião de urgência para tratar do assunto, conforme noticiou a Folha da Manhã, de 19 de dezembro de 1929.

Além do Dr. Gandra, compareceu à reunião o tenente Edgard Mattos, médico do 2º Grupo de Artilharia de Montanha (hoje 12º GAC). Os demais seis médicos de nossa cidade simplesmente não compareceram. O jornal encerra a nota com ironia, falando da incrível coincidência de estarem todos ocupados no horário da reunião...


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

A COMPANHIA CERÂMICA JUNDIAHYENSE E O POLYTHEAMA EM 1937

A Companhia Cerâmica Jundiahyense foi fundada nos anos 1920, tendo sido  pioneira na fabricação de louça sanitária no Brasil; foi adquirida pelo grupo Itau em 1968, fabricando produtos que levam a marca Deca. A Folha da Manhã de 24 de janeiro de 1937 publicou anúncio da empresa, apresentando seus produtos: "bacias de W. C.", lavatórios, "bidets" e "mictórios". 

A fábrica situava-se no bairro da Ponte de São João, em área hoje ocupada por edifícios residenciais - a foto que ilustra o anúncio foi feita mostrando a fábrica e os altos da hoje Avenida dos Imigrantes. A foto acima foi tomada no sentido contrário, mostrando o bairro de Vila Arens e parte do Centro da cidade.

Naquela data, o jornal apresentava, em algumas páginas, notícias e anúncios de nossa cidade - dentre esses, o do Theatro Polytheama, que à época funcionava também como cinema e era anunciado como "o maior e mais confortável do interior"; no dia os jundiaienses puderam assistir "Amor e ódio na floresta", um "film inteiramente colorido" -  em "technicolor", foi produzido em 1936, tendo sido um dos primeiros filmes coloridos; mostrava a história de duas famílias rivais que viviam em fazendas vizinhas e que se envolveram na construção de uma ferrovia e em casos de amor.

O cinema e a cerâmica são temas diferentes, mas podem nos dar uma ideia acerca de como era a cidade naquela época.  

terça-feira, 24 de outubro de 2017

UM CASO COMPLICADO - OU, MAIS UM AMOR INCONTROLÁVEL...

A Folha da Manhã, de 15 de julho de 1931 noticiava um caso complicado: o jovem Narciso, casado e pai de dois filhos, motorista da Argos, apaixonou-se pela jovem Alzira, solteira, que trabalhava na Fábrica Glória.

Talvez inspirado por um filme que estava nos cinemas naquela época, Narciso simplesmente retirou os móveis de sua casa e levou-os para a casa de seus pais, que viviam perto da estação de Várzea Paulista; a esposa de Narciso "botou a boca no mundo" e os pombinhos foram intimados a comparecer à Polícia que abriu inquérito para apurar o assunto - pena que não conseguimos descobrir como terminou a novela...


sábado, 21 de outubro de 2017

O HEROÍSMO DE UMA MÃE


Em 10 de julho de 1958 por pouco não ocorreu uma tragédia em Campo Limpo, então um bairro de Jundiaí.

O menino Jefferson  Spina, de pouco menos de 3 anos caiu em um poço de 25 metros de profundidade; a água que se acumulava no fundo amorteceu sua queda e o garoto conseguiu agarrar-se a um cano que era ligado a uma bomba utilizada para puxar água do poço. 

Indiferente ao perigo, Solidéa, a  mãe do menino desceu ao fundo do poço agarrando-se no cano; no fundo, segurou a criança até que foram socorridos por um vizinho, o jovem Arsênio Rossi FIlho, que também desceu ao poço. Vizinhos baixaram  uma corda e um lençol, aos quais foi preso o menino, a seguir puxado para fora do poço, tendo sofrido apenas algumas escoriações. Com mais uma corda e um pedaço de madeira, Arsênio montou um trapézio que serviu para a saída de Solidéa; a seguir, Arsênio subiu pelo cano. 

Arsênio tinha vocação para herói: cerca de dois meses antes retirara das águas de uma lagoa situada na Figueira Branca, os cadáveres de dois estudantes que ali se afogaram.


Jovino, o pai da criança, era proprietário de um armazém. Encontrava-se em Jundiaí, tratando da documentação de um veículo quando foi avisado dos fatos; procurou o Corpo de Bombeiros, que estava com sua única viatura sem condições de uso; foi preciso pedir um caminhão à Prefeitura - felizmente, quando chegaram a Campo Limpo, o menino já estava salvo.

A criança é hoje o engenheiro Jefferson Spina, muito atuante em nossa cidade. 




terça-feira, 17 de outubro de 2017

1934 - ACONTECIA NOSSA PRIMEIRA EXPOSIÇÃO VITIVINÍCOLA

A foto mostra a Rua Vigário J.J. Rodrigues, com um carro subindo em sentido contrário ao atual fluxo de trânsito.

O arco com a palavra "Bemvindos", foi erguido para saudar os visitantes que vinham à cidade para a Festa da Uva de 1934 - era um lugar adequado, pois a maioria das pessoas vinha de trem, chegando à estação e indo para o centro da cidade, onde aconteceu a festa. Era também o caminho natural para os que vinham de São Paulo de carro: pela Estrada Velha, tomavam a Rua Brasil, a atual Emile Pilon e viravam à esquerda, pegando a Dr. Olavo Guimarães e em seguida a Vigário; esses eram uma minoria: até o interventor (governador do estado) veio de trem. 


No prédio da esquina funcionou a Funerária Bonifácio; fica na esquina da Vigário com a Secundino Veiga. Mais tarde, os ônibus que tinham seu ponto final na Praça Rui Barbosa desciam a Secundino para virar à direita na Vigário (sentido inverso ao do carro da foto) - quando criança,  me preocupava muito que o ônibus perdesse os freios, batesse nas grades que aparecem à direita na foto e caísse no barranco ali existente - hoje a área é ocupada por prédios; a presença da Funerária tornava a coisa mais assustadora... 

terça-feira, 10 de outubro de 2017

JOSÉ FELICIANO DE OLIVEIRA: UM GRANDE JUNDIAIENSE

Os evangelistas Lucas ((4, 24), Mateus (13, 57), Marcos (6, 4) e João (4, 44) relatam como Jesus foi recebido com desdém em Nazaré, cidade onde crescera: seus conterrâneos diziam coisas como "é apenas o filho do carpinteiro"... A resposta de Jesus tornou-se um clássico em latim: "Nemo propheta in patria sua", algo como ninguém é profeta em sua própria terra.

Em nossa terra confirma-se a veracidade dessa expressão: quase ninguém sabe quem foi o Prof. José Feliciano de Oliveira - muitos apenas sabem que ele dá nome a uma escola de Jundiaí. Mas ele talvez tenha sido o maior de nossos intelectuais.

Feliciano e seu observatório
Nascido em nossa cidade em 1868, de família humilde, começou a trabalhar nos Correios aos doze anos, tendo depois se mudado para São Paulo, onde se graduou na Escola Normal em 1887. Havia aprendido as primeiras letras em escola mantida pelo professor João Batista de Farias Paes.

Aos 14 anos, liderou a criação do primeiro Gabinete de Leitura de nossa cidade. Nesse empreendimento, que infelizmente não foi à frente, teve o apoio de cidadãos ilustres de Jundiaí, dentre os quais José Flávio Martins Bonilha, Artur Guimarães, dos futuros desembargadores Miguel Brito Bastos e Inácio Arruda, Carolino Bolívar de Araripe Sucupira (o Major Sucupira, veterano da Guerra do Paraguai) e membros da família Queiroz Telles. 
Em 1893

Extremamente culto, estudou e lecionou Português, Francês, Latim, Física, Matemática e Astronomia. Chegou a construir um observatório em sua casa, que ficava na Rua Da. Antônia de Queiroz, próxima à Rua da Consolação, em S. Paulo – seu objetivo era permitir que seus alunos tivessem aulas práticas. Em 1892 era o diretor da Escola Municipal da Sé, em São Paulo.

Interessou-se também pelos indígenas, tendo estudado os Xerentes, que viviam às margens do Rio Tocantins. Descreveu suas aldeias, vida doméstica, forma de governo, rituais,   lendas, sistema de numeração e conhecimentos astronômicos. Obteve informações principalmente através de Sepé, um cacique dessa etnia que viajou algumas vezes ao Rio de Janeiro. 

Republicano e abolicionista era seguidor e um grande nome do positivismo, corrente filosófica que surgiu na França no começo do século XIX, cujo principal expoente foi Augusto Comte. Em seus escritos sobre os Xerentes, Feliciano deixou claro sua crença no positivismo e atitudes anticlericais no que se refere ao relacionamento das igrejas com os índios. 

Publicou inúmeros artigos em revistas e jornais, além de livros, dentre esses "A propaganda positivista em São Paulo" (1898), "Cometas, bólides e estrelas cadentes" (1901), "O ensino em São Paulo" (1932) e "José Bonifácio e a Independência" (1955).


Benedicto Castilho de Andrade e o Prof. José Feliciano de Oliveira no Restaurante das Carpas nos anos 1950
Em 1911, mudou-se para Paris, onde viveu até 1958, ministrando cursos na Sorbonne e no Instituto de História das Ciências, anexo à Universidade de Paris; na França, foi também conferencista e colaborador de vários jornais. 


Foi professor por setenta anos, deixando a cátedra aos noventa anos de idade. Dizia-se que falava com entusiasmo, com um belo timbre de voz e dicção clara, falando com os olhos fixos no alunado, sem recorrer a anotações. 

A respeito dele, escreve Omair Guilherme Tizzot Filho em tese apresentada à Faculdade de Educação da USP: "Como educador, defendeu a regeneração social através do ensino, com a incorporação do negro, do índio e do proletariado, e a preparação adequada para a vida moral em sociedade, possibilitada pelo ensino integral. O professor deveria ser, para ele, um exemplo de comportamento voltado à pátria, que incentivasse os alunos a se comportarem com urbanidade a fim de que pudesse haver progresso".

Já o Professor Pierre Ducassé, da Sorbonne, dizia: “professor igualmente notável pela pujança pedagógica como pela ciência, José Feliciano quis ser o apóstolo totalmente desinteressado das únicas convicções que lhe pareciam unir ao amor da Humanidade, que lhe iluminava a vida, a certeza da ciência que lhe iluminava o espírito”.

Amante dos livros comunicou ao Gabinete de Leitura Ruy Barbosa, de nossa cidade, que iria doar à instituição metade de sua biblioteca, composta à época por cerca de onze mil livros, conforme noticiou o jornal Folha da Manhã, em sua edição de 6 de setembro de 1946. Em 1977, o remanescente de sua biblioteca, quase oito mil volumes, foi doado ao Instituto de Estudos Brasileiros, da USP.

Faleceu em São Paulo em 1962, tendo sido sepultado em Jundiaí. Dele disse em seu blog o Prof. José Renato Nalini, outro ilustre jundiaiense: "estive em seu enterro. Impressionou-me o homem elegante, de barbas brancas, um monóculo de lentes azuis, como a repousar na urna". 

E conclui o Prof. Nalini: "Será que os alunos egressos da Escola que leva seu nome têm consciência do significado e importância de seu patrono?" 


Apostaríamos que não...





JÂNIO PROIBIU O ROCK - E NOSSOS VEREADORES APLAUDIRAM!

Jânio Quadros era um lunático, para dizer o mínimo, mas como tantos outros doidos e bandidos, acabou chegando à presidência da república, à qual renunciou em 1961 alguns meses depois de assumir, dizendo estar impedido de governar por umas certas "forças terríveis". Alguns dizem que se o Engov já tivesse sido inventado naquela época a história seria diferente, pois Jânio gostava muito de tomar "umas e todas"...

No exercício do Poder, Jânio tomou uma série de medidas absurdas, como a proibição dos biquínis, a adoção do safári como uma espécie de uniforme do funcionalismo e outras. Antes da presidência, Jânio foi governador de São Paulo, e nesse cargo, proibiu o rock.

Na nossa Câmara Municipal, teve alguns discípulos,  como o vereador Carlos Gomes Ribeiro (foto ao lado), que em 1957 requereu e viu aprovado um "voto de regosijo e louvor" a essa medida, declarando o rock "atestado vivo do despudor, da indecência e do desrespeito". O texto do requerimento está ao final deste post.

Se estivesse vivo (faleceu em 2004) o que diria o vereador acerca dos tempos atuais?

Quanto a Jânio, o povo tem memória curta: foi eleito prefeito de São Paulo em 1986. Faleceu em 1992.


domingo, 8 de outubro de 2017

1941 - FUNDADO O AEROCLUBE DE JUNDIAÍ




Em 2 de junho de 1941 aconteceu no Gabinete de Leitura Ruy Barbosa a assembléia de fundação de nosso Aeroclube. 

Matéria publicada no dia 6 pela Folha da Manhã, relata o evento, ressaltando o empenho do "piloto aviador" Francisco Blumer Pinto, que fez parte da primeira diretoria com o cargo de Diretor Técnico - presidia o clube, José de Castro Marcondes. 



quinta-feira, 5 de outubro de 2017

ALGUÉM SABE ONDE FICA OU FICAVA A VILA DE SANTA CRUZ DO TABOÃO?

A "Folha da Manhã", de 22 de setembro de 1940 trazia notícias sobre os trabalhos de construção da Via Anhanguera, entre a capital e nossa cidade. 

Eram cerca de 45 quilômetros, uma redução de 10  em relação à antiga estrada, mas ficou uma curiosidade: a matéria afirmava que há 8 quilômetros de nossa cidade, ficava "a antiga e decadente vila de Santa Cruz do Taboão" -  a matéria era ilustrada com uma foto da capela do local. 

Será que alguém sabe onde fica ou ficava essa vila??? Ao que parece, na atual Jordanésia, hoje pertencente a Cajamar e na época parte do município de Santana do Parnaiba. Conforme informações levantadas por Luis Eduardo Pontes, o jornal "A Província de S. Paulo" (hoje "O Estado"), noticiava em 19.04.1882 a criação de uma escola para meninas na Capela, que se localizava na então cidade de "Parnahyba".


terça-feira, 3 de outubro de 2017

A VISITA DE DOM JOSÉ GASPAR E SUA TRÁGICA MORTE

Dom José Gaspar, o Arcebispo Metropolitano de S. Paulo chegou à nossa cidade no final da tarde do dia 4 de fevereiro de 1943, uma quinta feira, hospedando-se na residência do vigário de nossa cidade, o padre Arthur Ricci, após ter sido recebido por autoridades civis e militares e associações religiosas.

Visitou igrejas (a Matriz, Vila Arens, Ponte de S. João e NS. do Rosário), a Casa da Criança, a fazenda da família Traldi, participou de cerimônias religiosas, foi ao Caxambu - enfim, cumpriu uma extensa agenda. Na tarde do dia 5, voltou a S. Paulo, de trem, como chegara

Dom José nasceu em Araxá em 1901, e aos onze anos de idade foi para Itu, onde foi aluno interno do  Colégio de São Luís. Entrou para o seminário em 1916, fez os cursos universitários de Filosofia e Teologia, no Seminário Provincial em São Paulo e no Colégio Pio-Latino Americano. em Roma. Graduou-se na Pontifícia Universidade Gregoriana, de Roma, e fez doutorado em Direito Canônico.


Foi ordenado em São Paulo, a 12 de agosto de 1923 - como padre secular foi para diocese de Uberaba, retornando a São Paulo em 1929, onde trabalhou na paróquia da Consolação e  em seminários da arquidiocese de S. Paulo.

Em 1935, foi nomeado bispo, sendo sagrado na igreja de  Santa Cecília, em São Paulo. Em 1939  o Papa Pio XII, o nomeou para arcebispo de São Paulo, sucedendo o arcebispo falecido, D. Duarte Leopoldo e Silva.

Mas em 27 de agosto daquele mesmo ano, a tragédia atingiu D. José: indo de São Paulo para o Rio de Janeiro, em um Junkers 52 da VASP, sofreu um acidente que lhe custou a vida. 

Pouco depois das nove da manhã, tentando aterrisar no aeroporto Santos Dumont, no centro do Rio, em meio a densa neblina, seu avião chocou-se contra o prédio da Escola Naval e caiu no mar. Morreram os 4 membros da tripulação e 14 dos 17 passageiros, dentre estes também o jornalista Cásper Líbero. A imagem abaixo mostra o avião em que viajava Dom José - era um anúncio da VASP anunciando o início da linha S. Paulo - Rio.

 



segunda-feira, 2 de outubro de 2017

1922: PAULISTA FC TOMA UMA GOLEADA

A revista "A Cigarra", noticiou o jogo amistoso realizado em 21 de abril de 1922 entre o Club Athletico Paulistano e nosso Paulista, com vitória do Paulistano por 6 x 2 .
O Paulistano foi o campeão estadual de 1921 e o Paulista  campeão do interior do mesmo ano.
O jogo foi realizado no estádio da Chácara da Floresta, que ficava próximo à Ponte das Bandeiras, na Marginal do Tietê - o campo ainda existe, dentro do extinto Clube de Regatas Tietê, hoje um centro esportivo da Prefeitura de São Paulo. 
Durante muitos anos foi o principal estádio da cidade de São Paulo, tendo pertencido à Associação Atlética das Palmeiras (o Palmeiras alvinegro), que ao encerrar suas atividades passou o estádio ao recém-formado São Paulo Futebol Clube em 1930.