sexta-feira, 29 de abril de 2016

LEONARDO CAVALCANTI: UMA HISTÓRIA TRÁGICA

O Mackenzie College (esquina das ruas Maria Antonia e Itambé)
Leonardo de Albuquerque Cavalcanti era o segundo filho do médico Francisco de Albuquerque Cavalcanti, o Dr. Cavalcanti que foi prefeito de nossa cidade e de Alice Ulhoa Cintra. 

Nascido em São Paulo em 1º de julho de 1892, estudou no Colégio São Luis e depois graduou-se em engenharia pelo então Mackenzie College (hoje Universidade Presbiteriana Mackenzie), ambos em São Paulo.

A seguir mudou-se para os Estados Unidos, para fazer um curso de pós-graduação de três anos na Escola de Engenharia Elétrica da Universidade de Princeton, onde em 1916 ganhou a medalha Charles Ira Young, concedida a pesquisadores que se destacam na área de Engenharia Elétrica. Neste mesmo ano tornou-se um associado ao IEEE, o Institute of Electrical and Electronics Engineers, uma das mais importantes associações profissionais de todo o mundo.

Documento da polícia acerca do acidente 
Nos Estados Unidos trabalhou para a Western Electric e para a Westinghouse; ao retornar ao Brasil, trabalhou na Cia. Campineira de Luz e Força e, em 1920, convidado pelo engenheiro Francisco Paes Leme de Monlevade, então superintendente da Companhia Paulista de Estradas de Ferro, foi trabalhar na ferrovia, que iniciava a eletrificação de mais um trecho.

Faleceu aos 32 anos, na noite de 29 de abril de 1925, ao tocar inadvertidamente em um cabo de alta tensão enquanto trabalhava no pátio de manobras da empresa em Campinas - sua morte foi instantânea. 
Obituário publicado pelo Journal do IEEE
Quem entra no cemitério Nossa Senhora do Desterro pela alameda central, vê logo à sua direita um jazigo com uma escultura de uma jovem debruçada sobre um caixão - é a sepultura de Leonardo. 

Conta-se que durante o enterro, Yole Motta, que seria sua namorada, teria se lançado sobre o caixão e prometido amor eterno - Yole veio a falecer 45 anos depois, solteira, conforme sua promessa. 

O túmulo

domingo, 24 de abril de 2016

ADHEMAR DE BARROS VISITA JUNDIAÍ: BAJULAÇÃO, DISCURSOS E INAUGURAÇÕES

Adhemar
Durante a ditadura Vargas, os governadores dos estados eram indicados pelo governo central, sendo chamados “interventores”.


Marcondes
Em 25 de maio de 1941, o então interventor Adhemar de Barros (que teria sido o primeiro a ser chamado ‘rouba, mas faz’), visitou nossa cidade. Aqui chegou de trem vindo de Campinas, que visitara antes. Segundo o Correio Paulistano, o interventor foi recebido na estação pelo prefeito Manuel Anibal Marcondes, que seria assassinado algum tempo depois.   


No desfile
De carro, seguiram para a Praça Rui Barbosa, onde houve um desfile, do qual participaram alunos de diversas escolas (Conde do Parnaíba, Francisco Telles, Siqueira de Moraes, Ginásio Rosa etc). 

Segundo o jornal, estavam presentes também cerca de vinte mil trabalhadores das indústrias têxteis, cerâmicas, químicas etc. - não se deve esquecer que os jornais eram controlados pela ditadura Vargas, portanto esse número talvez não seja confiável, tendo em vista o tamanho da cidade à época. 
O almôço no Grêmio
Por volta das 14 horas, o grupo dirigiu-se ao Grêmio CP para o almoço, onde à sobremesa ouviu discurso do Prefeito, ao qual Adhemar respondeu com outro discurso, ambos longuíssimos e que são transcritos na íntegra pelo Correio. E como se gostava de discursos: ao chegar ao Grêmio, Adhemar já fora saudado por uma criança e depois de seu discurso, Eloy Chaves, “num rápido improviso”, ergueu um brinde ao governador...
Deixando o Grêmio, a comitiva dirigiu-se ao local onde seria lançada a pedra fundamental do edifício da Caixa Econômica Estadual - seria na Rua Barão de Jundiaí? Ali, mais um discurso, desta vez de Olavo de Queiroz Guimarães.
A seguir, por volta das 16 horas o grupo foi à Prefeitura, que na época situava-se na Rua Barão: ali seria colocado um retrato de Adhemar, descrito como “um dos vultos que mais haviam trabalhado pela pátria e mereceram as homenagens do município de Jundiahy”. E mais um longo discurso, desta vez de Waldomiro Lobo da Costa.

E mais: lançamento da pedra fundamental do Parque Infantil, onde hoje se localiza o Terminal Central, inauguração do reservatório “Adhemar de Barros”, do “Serviço de Abastecimento de Água de Jundiahy” (seria onde hoje se localiza o Velório Municipal?), visita ao Hospital São Vicente - e mais discursos: no primeiro desses eventos, falou Tibúrcio Estevam de Siqueira.
A fonte luminosa

Pelas 19 horas, a comitiva chegou à Praça Pedro de Toledo, em frente à Catedral, para inauguração da Fonte Luminosa: mais um discurso, desta vez de Alceu de Toledo Pontes. Adhemar descerrou a placa comemorativa, com a fonte entrando em funcionamento.

A seguir, outro discurso: João Baptista Figueiredo, “falando em nome do povo”... Logo depois, o Tenis Clube Paulista ofereceu um lanche a Adhemar, que se despediu e foi para a estação ferroviária, de onde seu trem partiu às 20:15, chegando a São Paulo às 21:20 – muito mais rapidamente que os trens atuais, 75 anos depois. 

Os atuais, observe-se,  são ainda mais lentos que os de 1867, como mostra o primeiro horário da EF Santos a Jundiaí:



domingo, 17 de abril de 2016

CRUELDADE E BUROCRACIA

A praça na atualidade
Na cidade de Campinas, no dia 9 de novembro de 1835, no largo de Santa Cruz (hoje Praça XV de Novembro), foi enforcado e esquartejado o escravo Elesbão. Elesbão foi condenado por ter assassinado, no dia 20 de maio de 1831, o seu senhor, o capitão Luiz José de Oliveira, tendo a seguir bebido seu sangue. No processo, foram interrogados 18 escravos e 35 outras testemunhas. 

Segundo o processo, Elesbão era "um africano, pertencente à nação cabinda, de estatura ordinária, rosto comprido, testa pequena, cabelos encarapinhados, nariz chato, boca resgada, beiços grossos, pouca barba, e parecendo ter vinte anos, solteiro".

O crime teria sido cometido por Elesbão e por outro escravo, Narciso, que pertenciam ao Capitão e haviam fugido, voltando para mata-lo. Narciso foi preso e executado no dia 24 de maio de 1833, em São Paulo. Elesbão estava foragido, mas em 1835 foi capturado por capitães do mato; sempre se declarou inocente, dizendo serem os criminosos Narciso e Luiz Congo, escravos que queriam fugir do castigo acusando-o.

O crime teria sido cometido com o uso de faca (Elesbão) e foice (Narciso), e o motivo teria sido o excesso de trabalho dado aos escravos; o capitão teria também abusado de uma namorada do escravo. O Capitão era dono do Engenho Romão, situado entre Jundiaí e Itu, e os assassinos viviam em um quilombo situado na região de Itatiba, onde viviam
sete escravos fugidos desse engenho, inclusive Luiz Congo. 

A execução era um espetáculo público – muitos donos de escravos enviavam os seus para o assistirem, como forma de “educação”. Conta-se que um cortejo saiu da cadeia, formado pelas autoridades, réu, vigário e pelo carrasco; a seguir, a infantaria da Guarda Nacional e fechando o préstito a cavalaria da mesma Guarda. 

Dirigiram-se todos à Matriz, onde foi realizada missa da qual o condenado tomou parte. Em seguida, o grupo desfilou pelas ruas mais importantes da cidade, seguindo para o local do suplício, onde a sentença foi cumprida por volta do meio dia, tendo Elesbão, mais uma vez, afirmado ser inocente. 

À sentença de condenação à morte, foi acrescentada pelo juiz José Mendes Ferraz a determinação que se segue: “declaro que depois do réu sofrer a pena de morte cortar-se-ão as mãos e a cabeça; esta será remetida para a Vila de Jundiaí, e ali colocada num poste em lugar público e aquelas serão colocadas nesta Vila em um poste também em lugar público”. 

A burocracia já imperava: o referido juiz mandou entregar a cabeça ao juiz de nossa cidade, acompanhada de uma carta que dizia: “o portador desta entregará a Vª. Sª. a cabeça do justiçado Elisbão, para Vª. Sª. mandar coloca-la em um poste, em lugar público, conforme determina a sentença aplicada ao mesmo. Vª. Sª. me remeterá o recibo para constar” – o juiz de Campinas pedia o recibo da cabeça!!!  A burocracia realmente já imperava.

E mais um detalhe macabro: a carta de remessa da cabeça estava datada de 10 de dezembro, um mês após a execução! A cabeça foi colocada em uma caixa e envolvida em sal, e foi trazida a Jundiaí por dois portadores, que receberam pelo trabalho 4 mil e quatrocentos réis - a forca havia custado 33 mil réis e o facão usado para cortar a cabeça e as mãos custou um mil e seiscentos réis. Segundo recomendação da Câmara Municipal de Campinas, a forca deveria ser construída "com alguma segurança e firmeza, para servir em outras ocasiões semelhantes."

Infelizmente crueldades seguem ocorrendo e a burocracia dominando...

domingo, 10 de abril de 2016

LITORINA: LIGANDO SÃO PAULO A CAMPINAS COM CONFORTO E SEGURANÇA

A litorina em uma estação entre Jundiaí e S. Paulo
Muitos jundiaienses, que estudaram ou trabalharam em São Paulo e Campinas, ainda se lembram das “litorinas”, trens que ligavam aquelas cidades, com parada em Jundiaí.
Esses trens, de propriedade da EF Santos a Jundiaí eram operados conjuntamente por esta e pela Cia. Paulista, e pretendiam competir diretamente com os serviços de ônibus recém-surgidos que usavam a Via Anhanguera, então recentemente inaugurada.
Tecnicamente chamados TUE (Trens Unidades Elétricos),
Saindo da Estação da Luz (ao fundo, a Estação Júlio Prestes)
eram pintados de marrom, com faixas amarelas. As litorinas eram formadas por um carro-motor (central) e dois carros-reboque; seu peso vazio era de 111,25 toneladas, com potência de 800 HP e podendo acomodar até 198 passageiros sentados em bancos de couro verde e palhinha, a uma velocidade máxima segura de 110 km/h.
Elas foram entregues à E.F. Santos a Jundiaí entre julho e setembro de 1952, permanecendo em serviço por cerca de 30 anos. Foram construídos pela English Electric, tradicional fornecedora de locomotivas para a EFSJ.
As litorinas tinham o apelida de “Gualicho”, um famoso cavalo de corridas da época e que foi o único cavalo da história a vencer os GPs São Paulo e Brasil por dois anos consecutivos, em 1952 e 1953, pilotado por Olavo Rosa. Gualicho quebrou  o recorde dos 3.000 metros nos dois hipódromos, sendo que no prado paulista a marca ainda vigorava em 2015. 
A título de curiosidade, cabe dizer que Gualicho nasceu na Argentina...
O triste fim: sucata em Paranapiacaba

terça-feira, 5 de abril de 2016

DIOGENES DUARTE PAES - UM GRANDE ARTISTA DE NOSSA TERRA

Folia do Divino
O jundiaiense Diógenes Duarte Paes nos anos 1950 era considerado o maior aquarelista do Brasil. 
O artista,  nascido em 29 de janeiro de 1896, desde cedo mostrou ter vocação para a pintura, herdada de seu avô  João Batista de Faria Paes. Permaneceu em Jundiaí até o início dos anos 20, quando se mudou para São Paulo, onde  estudou desenho e pintura com o inglês John Appleby e com Antonio Rocco.
Escola da Nhazinha Gata
Além de aquarelas com cenas de Jundiaí e outras cidades, Paes produziu óleos sobre tela. Sua primeira exposição importante, com 50 trabalhos em aquarela, aconteceu em São Paulo, na Galeria Itá, em 1946. Em 1948 expôs na livraria do Mappin, então a loja mais sofisticada de São Paulo. 


Pharmacia da Boa Prosa
Em 1951 apresentou no Museu de Arte de São Paulo a “Exposição de Desenhos Folclóricos”, que constava de 30 obras entre elas “Folia do Divino”, “O pito de barro”, “Recomenda das almas”, “Domingo de Ramos”, “Antegozando os fogos” e “Depois da procissão”.
Depois da procissão - anjo rico e anjo pobre
Suas obras mais interessantes mostram cenas de nossa cidade; dentre elas, uma sala de aula da escola da professora “Nhazinha Gata”, que funcionava na Rua Baroneza do Japy e uma cena típica das cidades do interior: em “Pharmacia da Boa Prosa”,   grandes nomes da sociedade jundiaiense da época conversavam, dentre eles  o   farmacêutico Zacharias de Góes, Carlos Salles Block, o dentista Conrado Augusto Offa, o prefeito Valdomiro Lobo da Costa e o padre Lúcio Xavier de Castro.
Rua do Rosário - ao fundo a igreja  Nossa Senhora
 do Rosário dos Pretos, demolida em 1922
para a abertura da Rua Maj. Sucupira
Profundamente inserido na vida de nossa cidade, Paes fez parte da Banda Aurifulgente, grupo carnavalesco de nossa cidade fundado em 1915. Na época, para pertencer à Banda, havia um requisito: não se podia saber tocar qualquer instrumento... O jornal “Folha da Manhã”, de 1º de março de 1935 dizia que Paes foi o primeiro regente da Banda!
A Igreja Matriz
Paes também criou a bandeira de nossa cidade, que aparece no alto deste blog - venceu concurso estabelecido para sua criação e escreveu para diversas publicações de nossa cidade e da capital. Muito culto, falava inglês, francês e espanhol.
O artista faleceu em 1964 e dá nome à pinacoteca de nossa cidade, instalada no prédio do antigo Grupo Escolar Coronel Siqueira de Moraes e a uma escola situada no Bairro do Retiro.


 Praia das Astúrias, Guaruja  
 A Ponte Torta