segunda-feira, 28 de março de 2016

A CICA E OS FIGOS RAMY - DOCES LEMBRANÇAS

Muitos brasileiros ficaram inconformados quando a CICA, a nossa Companhia Industrial de Conservas Alimentícias interrompeu a produção dos Figos Ramy em 1986. 
O doce tinha virado paixão nacional. Na sua elaboração a fruta transformava-se em passas carnudas, embebidas numa calda tão grossa que parecia mel; o figo é a primeira fruta citada na Bíblia, quando Adão e Eva perceberam estar nus e cobriram-se com as folhas da figueira.
O fato de as pessoas apreciarem os Figos Ramy, porém, não se devia à nenhuma motivação religiosa, apesar de doce ter um sabor divino - e vinha em latas redondas, pesando 600 gramas. Na lata, a CICA acondicionava as frutas lado a lado, apertadas e úmidas. Eram escuras, porém brilhantes e tenras. 
A produção se restringia aos meses de janeiro, fevereiro e março, que correspondem à safra do figo. Chegaram a ser produzidas 300 mil latas por ano. As passas eram comidas puras, usando garfo e colher (para não desperdiçar a calda), ou com a mão, segurando os figos pelo cabinho. Harmonizavam-nas com creme de leite, requeijão cremoso, suspiro ou sorvete de creme. 
Conforme disse o renomado jornalista J. A. Dias Lopes, na década de 1960 o pintor Di Cavalcanti quando vinha a São Paulo e se hospedava no antigo hotel Ca’d’Oro da rua Basílio da Gama,  servia-os com fatias de laranja aos amigos e interessados nos seus quadros. "As laranjas quebram a doçura dos Figos Ramy e assim se consegue comer mais”, explicava. Eu, pessoalmente, gostava de acompanhar os figos com vinho do Porto. 
Os Figos Ramy começaram a ser produzidos em 1945 e deixaram o mercado um ano antes de a empresa ser vendida ao grupo Ferruzzi. “Era muito caro produzi-los”, explica Salvador Messina Neto, o Turillo, último vice-presidente da antiga CICA. “Havia bastante descarte”. 

Ele conta que os figos, do tipo roxo, procediam inicialmente de Jundiaí e depois também de Valinhos. Deviam estar maduros, porém firmes, ou seja, inchados. Muito delicados, machucavam-se facilmente, complicando o transporte e a preservação. “O custo era alto, o preço de uma lata ficava elevado e não valeu a pena continuar”, concluiu Messina.
A CICA registrou o nome comercial do doce com “y”, inspirado no bairro de Vila Rami, onde existia uma fazenda onde o rami, uma fibra têxtil havia sido cultivada. Na fazenda havia uma cerâmica, que depois se transformou na Cidamar, hoje Roca,  e muitas figueiras e pertencia à família Cardia. 

Um dos seus empregados, Carlo, colhia os figos, secava-os no forno da cerâmica, embalava-os em papel celofane e os vendia na cidade. Um dos fundadores da CICA, o siciliano Comendador Antonino Messina, pai de Salvador Messina, encantou-se com o doce e decidiu industrializá-lo. 

Mas, para produzi-lo em maior quantidade, precisou superar dificuldades técnicas. Para isso, contratou Carlo e um confeiteiro italiano chamado Magnani. O trio desenvolveu um método no qual as frutas cozinhavam até alcançar 50 brix (escala numérica para medir a quantidade de açúcar) e terminavam na estufa - é um processo muito longo, complexo e caro, como disse Messina.
No fim de sua trajetória, o Figo Ramy acabou sendo exportado para diversos países, inclusive para Dinamarca e Suécia. Atualmente, encontramos nos supermercados vários produtos  com o mesmo nome, mas nenhum é tão bom quanto o original - como se dizia, "quem experimentou, experimentou. Quem não experimentou não experimentará mais"...
Para encerrar, uma vista da fábrica da CICA e suas imediações, nos anos 1960.  

terça-feira, 22 de março de 2016

BAIXARIA NA CÂMARA MUNICIPAL

Omair Zomignani
Na sessão da Câmara de 29 de janeiro de 1959, o então vereador, depois prefeito e deputado estadual Omair Zomignani (1926/2016), discursou  pedindo, de forma agressiva, a renúncia do prefeito Vasco Antônio Venchiarutti e do vereador José Poli.
Segundo Omair, a renúncia deveria ocorrer “para o bem de Jundiaí de seu povo”, em função da gravidade da situação administrativa da Prefeitura, decorrente de um regime de proteções e perseguições implantado por um grupo de funcionários graduados.
Omair citou nominalmente Idalina Pereira da Costa, chefe do setor de Dívida Ativa – ela era casada com o vereador do PTB Alberto da Costa (1904/1964), que presente à sessão ouviu calado o discurso, ao final do qual um filho do casal invadiu o plenário para agredir Omair, exigindo que esse confirmasse suas acusações. A “turma do deixa disso” impediu que a situação se agravasse, e com a chegada de elementos da Força Pública (hoje Polícia Militar) e da Guarda Municipal, a situação se normalizou.
Para dar prosseguimento aos trabalhos, o presidente da Câmara, vereador Lázaro de Almeida (o Arquimedes, farmacêutico em Vila Arens) pediu que a sala de sessões fosse evacuada, mas o vereador Alberto discordou, afirmando que gostaria de fazer a defesa de sua esposa publicamente, pois ela fora acusada com presença do público.
Alberto começou se discurso acusando  a maioria dos funcionários da Prefeitura de serem “vagabundos”, que “passavam os dias em botequins”. Omair reagiu a essas afirmações de maneira agressiva, o que levou o Presidente a encerrar a sessão, para evitar que este e Alberto se agredissem...
Omair era advogado e comerciante e sucedeu a Vasco como prefeito para o período 1960/1963, tendo também sido eleito pelo PTB. Iniciou seus estudos no Grupo Escolar Conde do Parnaíba. Foi estudar em São Paulo, onde fez os antigos cursos ginasial e científico nos renomados colégios   Dante Alighieri,   Paulistano e   Ateneu. Fez seus estudos superiores na  Faculdade de Direito do Rio de Janeiro.
Alberto da Costa, nascido no Rio de Janeiro, ao perder a mãe ainda criança, veio viver em nossa cidade com seus tios. Vereador por 16 anos, foi funcionário da Cia. Paulista durante praticamente toda sua vida e pertencia aos Vicentinos, tendo, nessa qualidade trabalhado muito pela implantação da Cidade Vicentina, à época chamada “Vila dos Pobres”. Era formado em Contabilidade pelo então Ginásio Rosa.
Os fatos foram relatados pelo jornal Folha da Manhã, de São Paulo, em sua edição do dia seguinte, 30 de janeiro de 1959.

domingo, 20 de março de 2016

O CONDE DO PARNAHYBA

Antônio de Queirós Telles, o Conde do Parnahyba, nascido em nossa cidade em 16 de agosto de  1831, foi advogado, empresário, proprietário rural e político. 
Era o oitavo filho do Barão de Jundiaí e de Anna Liduína de Morais e irmão do Barão do Japi, Joaquim Benedito de Queirós Teles. Formou-se em 1851 pela Faculdade de Direito de São Paulo, onde se matriculou em 1850 (o curso era muito mais rápido que na atualidade). Casou-se em 13 de junho de 1854 em Itu com Rita M'Boi Tibiriçá, tendo com ela cinco filhos. Foi Barão, Visconde e finalmente Conde do Parnahyba, título que recebeu em 3 de dezembro de 1887; era também Comendador da Ordem de Cristo, do então Reino de Portugal.
Iniciou a carreira de advogado em Itu, logo também iniciando na política, tendo sido eleito à Assembléia Provincial por três biênios, de 1856 a 1861. Seu mais alto cargo político foi o de presidente (hoje governador) da Província de São Paulo, entre 1886 e 1887. Uma de suas mais importantes obras como governador foi a construção da Hospedaria dos Imigrantes, finalizada em 1888; estimulou a imigração italiana para a província de São Paulo, tendo sido um dos criadores do Núcleo Colonial Barão de Jundiaí, no bairro da Colônia,   recebendo o título de “Apóstolo da Imigração”.   
Sempre se mostrou preocupado e interessado no tema da imigração e colonização do interior da província. Foi também fundador (1872) e presidente da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro de 1873 a 1886. Como curiosidade, vale lembrar que a Mogiana atingiu seu ponto máximo de expansão em 1922, quando chegou a 2 mil km de linhas – em 1971 quando foi absorvida pela Fepasa, esse número já havia caído para 1,5 mil – é mais uma faceta do declínio de nossas ferrovias.
Faleceu em Campinas (6 de maio de 1888) em  virtude da febre amarela, contraída no Rio de Janeiro, para onde havia ido acompanhar um filho que seguia para a Europa.
O corpo chegou a Jundiaí às 4 da tarde, sendo recebido na estação ferroviária por uma grande multidão e levado “ao palacete de seu irmão Francisco A. de Queirós Telles” (seria o Solar do Barão?)
O enterro saiu às 10 horas do dia seguinte, presentes inúmeras autoridades e pessoas de destaque, dentre as quais seu grande amigo, o arquiteto Ramos de Azevedo e, segundo o jornal Correio Paulistano, “mais de mil jundiahyanos”.
O jornal dedica extensa nota à sua memória, que conclui alfinetando seus concorrentes, dizendo que foi o único jornal a estar presente ao enterro, que chamou de “sahimento fúnebre”.
Já o jornal Imprensa Ytuana, de 13 de maio de 1888, noticiava missa cantada em memória do Conde, realizada na véspera na “Egreja da Ordem Terceira de S. Francisco” daquela cidade, com a presença de autoridades e amigos – a nota concluía-se dizendo que à porta do templo “estava postada a força desta cidade, com 20 praças com as armas em funeral”.
Em 1890, Estevam  Leão Bourroul, publicou a obra “O Conde do Parnahyba, apontamentos biográficos” , em que narra a vida do Conde, que dá seu nome a uma as mais tradicionais escolas de nossa cidade (fundada em 1906), que mantém um interessante blog. A foto acima mostra uma imagem da escola em 1926.

quarta-feira, 16 de março de 2016

ESPORTIVA - QUASE SÓ SAUDADE

A  velha e querida Associação Esportiva Jundiaiense, foi fundada em 1926 por funcionários da  Cia. Paulista de Estradas de Ferro.
Instalada inicialmente às margens do rio Jundiaí, reunia praticantes de futebol, atletismo, basquete e boxe; havia também  barcos para passeios e pesca no rio. Em 1929 transferiu-se para a então Chácara das Laranjeiras, onde se situou sua sede social, hoje demolida para a construção de prédios de apartamentos - a área foi vendida para quitar dívidas trabalhistas
A área ocupada pela Esportiva formava um quadrilátero, delimitado pelas ruas XV de Novembro, Padroeira, Torres Neves e Avenida União dos Ferroviários, por onde anteriormente passavam os trilhos da Sorocabana.
Ali foi  construída a melhor e mais bonita quadra de basquete da cidade; em 1931 a Esportiva conquistou o título municipal da modalidade. 
Em 1932 iniciaram-se as obras de sua primeira piscina e do prédio sede, o saudoso "Chalé" (de madeira) que servia também para aulas de ginástica, esgrima, tênis de mesa, etc. Em meados dos anos 60, adquiriu sua sede de campo, ao mesmo tempo em que iniciou as obras do ginásio em sua sede central, inaugurado em 1972.
A Esportiva sempre foi uma  força nos esportes coletivos, tendo sido pioneira na prática do basquete, voleibol e futebol de salão; uma de suas primeiras equipes aparece na foto ao lado, preparando-se para jogar na quadra antiga, com arquibancadas de madeira.
Em sua edição de 14 de maio de 1937, o jornal “Folha da Manhã”, de São Paulo, noticiava a realização do campeonato de voleibol (o esporte era chamado “volebol”) da Esportiva, com as escalações das equipes, que eram chamadas “turmas” – membros de tradicionais famílias de nossa cidade ali aparecem, como mostra o recorte ao lado. 
Já em 4 de fevereiro de 1940, o  mesmo jornal noticiava a eleição de sua nova diretoria, presidida por Benedicto d’Olival Fray,  composta por diversas personalidades de renome - ao final deste texto, a notícia. Como curiosidade, Fray fora o capitão da "Turma América", que disputara o campeonato de vôlei de 1937.
Grandes atletas defenderam as cores da Esportiva e do Brasil em eventos internacionais, dentre eles o medalhista olímpico no salto triplo Nelson Prudêncio,  o halterofilista Paulo Batista de Sene e Jurandir Ienne, do atletismo, ambos  campeões sul americanos; o prof. Hélio Maffia, figura de proa do esporte nacional, também foi atleta e treinador de equipes da Esportiva.
Também a atriz jundiaiense Eloisa Mafalda, nome artístico de Mafalda Theotto, foi atleta esportivana, tendo disputado na adolescência,  com sucesso, inúmeros campeonatos de natação.
É muito triste constatar  que o atual estilo de vida, que tornou menos importantes os clubes; isso, somado a algumas administrações ruinosas, levou um clube tão tradicional à triste situação em que se encontra a Esportiva, hoje reduzida a um punhado de sócios que se encontram em sua sede de campo, na estrada que liga nossa cidade a Itatiba.

segunda-feira, 14 de março de 2016

COM ELOY CHAVES, A ENERGIA ELÉTRICA CHEGA A JUNDIAÍ

Chaves na maturidade
Eloy Marcondes de Miranda Chaves (1875-1964) nasceu em Pindamonhangaba; criança ainda foi viver no Equador, onde o pai, diplomata, era o Cônsul Geral do Brasil. Graduado em Direito,  chegou a Jundiaí em 1897, para assumir o cargo de promotor, transferido de São Roque. Em 1898 casou-se com Almerinda Mendes Pereira,  de tradicional família de nossa cidade; tiveram dois filhos, Vail Chaves e Antonieta Chaves Cintra Gordinho.
Muito cedo,  renunciou ao cargo de promotor e enveredou para a política, elegendo-se vereador e depois deputado federal pela legenda do Partido Republicano Paulista – PRP. Foi secretario estadual da Justiça e da Segurança Pública e criou a  “Lei Eloy Chaves”, de 24 de janeiro de 1923, instituindo a primeira Caixa de Aposentadoria e Pensão dos Ferroviários, a base da política previdenciária nacional, da qual resultaria o atual INSS – Eloy é chamado “O Pai da Previdência Social”. 
Foi também empresário e um dos responsáveis pela chegada da energia elétrica a Jundiaí; em discurso de 1960 contou ele que:
O Solar do Barão e o Largo da Matriz, já com luz
“... a instalação de eletricidade em nossa terra nasceu no correr de uma festa realizada nos fidalgos salões (Solar do Barão) de um jundiaiense ilustre – o Sr. Francisco de Queiroz Telles. No decorrer da seleta reunião, dois ilustres engenheiros, o Dr. Edgard de Sousa e Aguiar de Andrade, o primeiro recém-chegado da Bélgica, onde fizera brilhantes estudos que o autorizaram a entrar em alta função da Light and Power, que iniciava então em São Paulo os seus grandiosos projetos. Chegaram a uma das janelas da velha mansão, que dá para o largo da Matriz, e, vendo a luz bruxoleante dos vetustos lampiões que escassamente iluminavam a cidade – se dirigiram a mim e indagaram porque em Jundiaí não se havia ainda cogitado da instalação da luz elétrica na cidade. Perguntei em réplica aos meus interrogadores se estavam dispostos a formar, com elementos de prol da cidade, uma empresa que levasse avante o grande melhoramento. Acolhida a ideia com entusiasmo, formou-se a Empresa denominada Luz e Força de Jundiaí.”
Em 1904 empresa recebeu autorização para funcionar, e assumiu o compromisso de instalar inicialmente a iluminação pública: seriam 250 lâmpadas de 32 velas (!) em postes de ferro espaçados entre 35 e 40 metros instalados na rua do Rosário, entre o Largo de São Bento e a rua Cândido Rodrigues e na rua Torres Neves, da estação da Companhia Paulista de Estradas de Ferro ao centro da cidade – essa era a rua que dava acesso ao centro da cidade àqueles que chegavam a Jundiaí pelos trens da Paulista. Nas demais ruas a Empresa poderia empregar postes de madeira, nunca inferiores a quatro metros de altura.
A Matriz em 1910
Foram também beneficiados a Câmara Municipal, a Matriz e o Hospital São Vicente; em cada um desses locais seria instaladas dez lâmpadas de 16 velas (!). O Largo da Matriz e o Jardim Público também seriam iluminados.
Em 3 de novembro de 1905, o sistema foi inaugurado; A partir dai, o processo foi se acelerando, inclusive com a construção de pequenas hidrelétricas no rio Jundiaí; consta que houve também  uma usina térmica. A empresa foi vendida à Light em 1927.
Eloy Chaves, Sousa e Andrade acabaram por tornar-se grandes empresários na área de geração e distribuição de energia; Souza dá nome à Usina Hidrelétrica Edgard de Sousa,   localizada em  Santana de Parnaíba.
A Fazenda Ermida na atualidade
Chaves foi também proprietário de diversas fazendas, entre as quais a  Ermida (adquirida em 1905)  e  por algum tempo o principal acionista do extinto Banco do Commércio e Indústria de São Paulo S.A. (Comind), maior instituição financeira privada do Brasil na primeira metade do século XX e o maior operador brasileiro no comércio internacional de café,  da Cia. Cerâmica Jundiaiense (fundada nos anos 1920 e vendida ao grupo Itaú em 1968). Em 1915, associado com o empresário português Antônio Cintra Gordinho e com o engenheiro alemão Hermman Braune, constituiu a Cia. Ermida de Papel e Celulose, hoje Bignardi Papéis,  a maior fabricante brasileira de papel reciclado.
Em 1910, em sociedade com Olavo Guimarães, comprou a Companhia Jundiahyana de Tecidos e Cultura S.A., cujo nome foi alterado para   S.A. Industrial Jundiahyense. Em 1940 vendeu a empresa, que passou a chamar-se Companhia Fiação e Tecidos São Bento S.A.

Finalizando, Chaves teve alguma ligação (que não conseguimos identificar) com o Gymnasio Hydecroft, instituição de ensino que funcionou durante algum tempo em nossa cidade, como mostra a notícia ao lado, publicada no jornal O Estado de S. Paulo de 7 de fevereiro de 1909. Teria ele investido também na área de educação? 

terça-feira, 8 de março de 2016

JOSÉ ROMEIRO PEREIRA

José Romeiro Pereira, nascido em nossa cidade em 17/12/1914, era filho do coronel Boaventura Pereira Neto e de Da. Josefina Romeiro. Fez o curso primário no antigo Colégio Florence, em Jundiaí, concluiu o secundário no Ginásio São Joaquim, em Lorena e ingressou na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco. 
Participou da Revolução de 32, tendo servido no batalhão Borba Gato, constituído principalmente por estudantes; a foto abaixo mostra estudantes montando guarda à porta da Faculade, logo nos primeiros dias da revolução.  
Na Faculdade, destacou-se  orador oficial do Centro Acadêmico XI de Agosto, função que exerceu  também  na colação de grau de sua turma. Ainda na São Francisco, dirigiu a revista “O Progressista”; graduado, colaborou na “Revista Judiciária” e em praticamente todos os jornais de Jundiaí.
Foi também professor, tendo lecionado  Sociologia na antiga Escola Normal Livre de Jundiaí, Economia no Colégio Universitário  anexo à Faculdade de Direito de São Paulo, Direito Social na própria São Francisco (como assistente do professor Cesarino Júnior),  Direito Administrativo na Pontifícia Universidade Católica de Campinas e Economia Política na Faculdade de Sociologia de São Paulo.
Como político,  em 1936 foi vereador à nossa Câmara Municipal, vindo a tornar-se prefeito da cidade  em dezembro de 1945, por nomeação do interventor estadual Carlos de Macedo Soares. Prefeito, suas principais realizações foram a reabertura do Parque Infantil da Praça da Bandeira, a pavimentação de inúmeras ruas da cidade e a vinda do Corpo de Bombeiros para nossa cidade, tornada urgente por um grande incêndio ocorrido, ao que parece, no pátio da Cia. Paulista.
Após deixar a Prefeitura em 1947, foi eleito Deputado Estadual; reelegeu-se em 1951 e, no final do seu mandato, em 1954, foi nomeado pelo governador Lucas Nogueira Garcez para chefiar três Secretarias de Estado: a de Governo, a Saúde e Educação. Nesse período, graças à sua atuação, Jundiaí viu expandirem-se ou serem criadas diversas escolas, entre as quais os grupos escolares Francisco Napoleão Maia e Francisco Monlevade e as então escolas primárias da Vila Rio Branco, do Caxambu e da Fábrica São Jorge, além de escolas mistas na Ponte de São João e na Cerâmica Japi.
Mais tarde, seu nome foi dado ao antigo Ginásio Estadual de Vila Arens (GEVA), situado nos altos de Vila Arens. Sempre muito envolvido com nossa cidade, foi um dos fundadores (1941) e presidente do Rotary Club de Jundiaí.
Faleceu prematuramente em 26/10/1961, tendo seu enterro sido acompanhado por uma multidão. Nessa ocasião, ocorreu um fato extraordinário: a  Ordem dos Advogados do Brasil indicara  um de seus membros,  o Dr. Peruche, tido como um dos melhores oradores do Estado para fazer o discurso fúnebre. Ao terminar o discurso, Peruche colocou a mão no peito e caiu morto, vítima de  um enfarte fulminante. Agora eram dois os cadáveres, o homenageante e o homenageado. Comoção intensa envolveu os presentes.

domingo, 6 de março de 2016

OS PELLICCIARI E A BANDA

Enrico Pellicciari  nasceu na Itália em 1868, tendo emigrado para o Brasil em 1885; era marceneiro. Em nossa cidade, foi proprietário  de uma fábrica de cadeiras na Rua da Estação, atual Barão do Rio Branco, na esquina com a rua Lacerda Franco.

Amante da música, em 15 de abril de 1918, com seus filhos Umberto, Amilcar, Arthur e Orestes, mais  o maestro Arthur Vasques, Alberto Rossi e outros,   fundou  a Corporação Musical Ítalo-Brasileira, a famosa "Banda Ítalo", que por mais de sessenta anos abrilhantou   eventos cívicos e sociais da cidade.

Em 1938 a entidade passou a ser denominada Sociedade Musical e Recreativa União Brasileira,  mais conhecida   “Banda” e que tornou-se também   um clube social e esportivo, por muitos anos sediado logo no início da  Avenida Dr. Cavalcanti. Do lado direito de quem segue para o centro da cidade.


Além de Enrico, muitos outros italianos fizeram parte dessa Banda, dentre os quais destacaram-se os Maestros Giuseppe Bovolenta e Frederico Nanno, também compositor e clarinetista. Seu filho, Orestes Pellicciari (1897-1968) também foi clarinetista e  maestro da mesma, sucedendo o maestro Frederico Nanno. Foi também membro da orquestra da Sociedade Jundiaiense de Cultura Artística. 

Honória, filha de Orestes, casou-se com Moacyr Breternitz, atleta da Esportiva e um dos pioneiros do basquete e do vôlei em nossa cidada.

sábado, 5 de março de 2016

EM 19 DE JANEIRO DE 1913 JUNDIAÍ ERA NOTÍCIA NO CORREIO PAULISTANO


O jornal Correio Paulistano era um dos mais importantes de nosso estado - lançado em 26 de junho de 1854 foi o primeiro jornal diário paulista e o terceiro do Brasil. Sua decadência iniciou-se com a chegada ao poder da ditadura Vargas em 1930, ficando fechado durante algum tempo, voltando a funcionar de maneira intermitente até ser extinto anos mais tarde.  Sua sede, desde 1907, ficava no Palacete Brícola, na Praça Antonio Prado, em área onde foi depois construído o Edifício Banespa.
Publicava uma seção chamada “Telegrammas”, com notícias das cidades do interior; no domingo, 19 de janeiro de 1913 trazia algumas notas sobre nossa cidade, conforme imagem ao lado; diziam essas notas que:
- Foram apreendidos doze cães vadios, recolhidos ao depósito público para serem abatidos;
- A diretoria do Serviço de Estatística Federal pediu à Câmara que enviasse a estatística dos prédios urbanos, suburbanos e rurais;
- Funcionaram os cinemas Barão do Rio Branco, Rink e Polytheama, com as casas bastante concorridas;
- O Deputado Federal de nosso distrito, Dr. Eloy Chaves seguiria para São Paulo (ir a SP era notícia de jornal!);
- O Juiz de Direito atendeu a Joaquim Fonseca, Brasilino Fonseca e Luiz Guerazzi, que solicitavam alistamento eleitoral;
- Foi encontrado o corpo de um menor, chamado José, que se afogara no rio quando tomava banho há dez dias.
Apesar da tragédia, parece que a vida era mais simples...

quinta-feira, 3 de março de 2016

1860 - NOSSA CIDADE ESTAVA DECADENTE

Von Tschudi

Johann Jakob von Tschudi (1818-1889) foi um naturalista e explorador suíço que dedicou parte considerável de sua vida a viagens pela América do Sul. Viajou pelo Brasil, entre 1857 e 1860, tendo sido a seguir nomeado embaixador de seu país, aqui permanecendo até 1868. 

Descreveu suas viagens (e a passagem por nossa cidade) no livro "Reisen durch Südamerika”, publicado em 1868 pela editora F.A. Brockhaus. Publicou também um livro sobre a colonização do Espírito Santo. 


Saiu de São Paulo a 1° de agosto de 1860, chegando à nossa cidade às duas da tarde do dia seguinte. Escreveu que Jundiaí "fora uma vila importante e rica, quando nas fazendas dos arredores se plantava muita cana-de-açúcar. Seus habitantes entretinham um animado comércio de mulas, que compravam ainda selvagens em Sorocaba e as domavam para depois revendê-las, como bestas de carga ou animais de sela. Este comércio proporcionava-lhes bons lucros e além disto fabricavam ótimas selas e arreios". 

Mas isso era o passado; Tschudi escreveu que em 1860 "as terras se achavam depauperadas, o comércio de muares diminuiu sensivelmente, a indústria de selaria se extinguiu e a localidade perdeu todo o brilho dos tempos passados" e que “metade das casas da vila não eram habitadas, seus donos as visitavam apenas aos domingos, quando vinham de seus sítios à vila, para assistir à missa; o único prédio um pouco melhor era o do Mosteiro de São Bento”.

Capa do livro de Von Tschudi
Chegou a Jundiaí sentindo muito frio (encontrara muita geada pelo caminho) e constatou que “não havia nenhum albergue aceitável” no então centro da cidade. Seguiu até a região da ponte que cruzava o Rio Jundiaí (provavelmente na área da atual Ponte de Campinas), onde disse haver “logo após a ponte, uma grande e frequentada hospedaria, num edifício em forma de quartel onde o viajante encontra boas acomodações, camas limpas e comida regular. Seu dono, um português de nome Pinto, é geralmente conhecido pela alcunha de Barão da Ponte, devido à sua bonomia e gentileza”. 

Outra viajante, D. Maria Paes de Barros, confirmava a opinião de Tschudi sobre o hospedeiro, mas dizia que a comida nem sempre era boa e que a hospedaria era "primitiva", consistindo apenas de uma fila de pequenos aposentos...


O Barão de Jundiahy 



Naquela época, já se falava na construção da estrada de ferro que ligaria Santos a Jundiaí, e que foi inaugurada em 1867 – Tschudi dizia que “o negociante era um grande inimigo da estrada de ferro projetada, pois viria ameaçar seriamente seu rendoso negócio”. Pinto perguntou ao viajante se na Europa alguma estrada de ferro já fora construída chegando a uma altitude tão grande quanto a da Serra do Cubatão (Serra do Mar). A resposta afirmativa do interrogado deixou Pinto ainda mais preocupado. 

O fim das tropas de animais de carga, que paravam na hospedaria para descanso dos animais e de seus condutores certamente afetaria muito o negócio – Tschudi dizia que Jundiaí somente tornaria a ter alguma importância, quando fosse servida pela estrada de ferro, o que realmente aconteceu. 

Tschudi percorreu algumas propriedades agrícolas em nossa região, procurando ouvir colonos de origem suíça ou alemã (talvez já agindo como futuro embaixador), pois na Europa corriam notícias acerca de problemas que estes estariam enfrentando. 

De uma delas, o Sitio Grande de Santo Antonio, que ficava a duas léguas (cerca de doze quilômetros) da cidade, pertencente ao Comendador Antonio de Queiroz Silva Telles, (mais tarde Barão de Jundiahy), obteve boa impressão, tendo afirmado que o fazendeiro, já septuagenário, pois nascera em 1789, era "homem geralmente respeitado, digno e honesto, apesar de ás vezes no primeiro momento parecer um pouco áspero. Nunca fora duro ou injusto para com os colonos”. Sua colonia, composta de 16 famílias do Unterwalden (cantão suíço), desenvolvera-se desde o começo, com muita regularidade, porque o fazendeiro respeitava religiosamente os contratos. 

De nossa cidade, após alguns dias, partiu Tschudi para Campinas.

quarta-feira, 2 de março de 2016

JUNDIAÍ NA REVOLUÇÃO FEDERALISTA

A Guarda Nacional, criada em 1832, pelo Padre Feijó, então Ministro da Justiça, tinha como missão, quando convocada, apoiar as Forças Armadas e os Corpos de Permanentes (a polícia de então) na manutenção da ordem – chegou também a lutar na Guerra do Paraguai.
Militares da PM do Paraná em ação na Revolução - note-se
a metralhadora Nordenfeldt de cinco canos
Oficialmente, a Guarda Nacional era composta por todos os cidadãos, distribuídos por batalhões e companhias espalhados por todo o País. Algumas de suas unidades foram convocadas quando de fevereiro de 1893 a agosto de 1895 a Revolução Federalista ameaçou o governo do Marechal Floriano Peixoto, com lutas sangrentas nos estados do sul.
Nossa cidade sediava, à época, o 2º Batalhão da Força Pública, responsável pelo policiamento em toda a Zona da Paulista. Logo no início do conflito, o Cel. Joaquim de Siqueira de Moraes, comandante da Guarda Nacional em nossa cidade, declarou-se pronto para substituir o 2º Batalhão em suas tarefas, de forma a que este pudesse executar outras missões no combate à Revolução, tendo logo o Batalhão se deslocado para Santos e mais tarde para os estados do sul. A notícia ao lado, publicado no jornal "A
Cidade de Ytu" de 21 de setembro de 1893, relata a chegada de tropa jundiaiense a Santos (seria o Batalhão da Força Pública ou a Guarda Nacional?), com "banda musical e bandeira" - a tropa, que provavelmente chegara de trem, foi  a seguir para a Ponta da Praia, em "bonds especiais".  
Além das missões de policiamento, outros membros da Guarda de nossa cidade foram mobilizados: um pouco mais tarde, jundiaienses, sob o comando do Capitão Sebastião Pontes, à época professor e vereador em nossa cidade, também participaram do combate à Revolução.  
Essas tropas fizeram parte do 3º Batalhão de Infantaria, cuja 1ª Companhia foi comandada por Sebastião Pontes e atuou na região de Itararé por cerca de cinco meses.
O nome desse ilustre jundiaiense foi atribuído em 1926 à praça onde se situa a Igreja de Vila Arens.
É interessante lembrar que Siqueira de Moraes e Sebastião Pontes não eram os únicos oficiais da Guarda Nacional em nossa cidade; o "Almanak Laemmert" de 1921, publicação que trazia informações sobre os municípios brasileiros, publica uma relação desse pessoal, que está ao lado; Sebastião Pontes provavelmente já era falecido. 
Em 1918 a Guarda Nacional foi incorporada ao Exército como “Reserva de 2ª Linha”, o que em termos práticos determinou sua extinção.